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COP28: Rede Cerrado e parceiros defendem a conexão dos biomas

COP28: Rede Cerrado e parceiros defendem a conexão dos biomasPreservação do bioma é central na pauta da Rede Cerrado. Foto: Wikipedia

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Consulta pública do PPCerrado pode começar nesta quarta

Água e Cerrado são duas riquezas ameaçadas que andam juntas. Esta é a mensagem que a Rede Cerrado e seus parceiros levam à 28º Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 28), em Dubai, nos Emirados Árabes. Nesta quarta-feira, aconteceu um ato em defesa do berço das águas do Brasil, como parte da campanha Cerrado e Amazônia conectados pela água.

O objetivo é chamar a atenção para a interdependência dos biomas e para a urgência do enfrentamento da crise hídrica. A degradação do Cerrado atingiu níveis extremos e, se não houver uma política de desmatamento zero, as consequências climáticas, hídricas, energéticas e alimentares para o Brasil e para o mundo serão catastróficas.

“A crise planetária que vivemos exige medidas firmes e urgentes para o bem comum de toda a humanidade e não pode depender de interesses políticos ou corporativos de grupos pontuais, em países produtores”, disse Lourdes Nascimento, coordenadora geral da Rede Cerrado, Lourdes Nascimento, que lidera a comitiva. E completou que é importante garantir que a conservação do Cerrado esteja no centro da pauta sobre soluções climáticas e o combate à crise hídrica.

Conservação

O coordenador Hiparidi Top Ttiro, indígena da etnia Xavante, e a secretária executiva da organização, Ingrid Silveira revelaram que é fundamental destacar a  interdependência dos biomas Cerrado e Amazônia no ciclo da água e evidenciar como as ações em um bioma impactam diretamente no outro.

Já o diretor do Instituto Cerrados e doutor em Ciências Florestais, Yuri Salmona, lembrou  que as longas raízes das árvores do Cerrado podem passar de 10 metros de profundidade, o que leva o bioma a ser comparado a uma floresta invertida. Essas raízes são responsáveis por levar a água das chuvas até os lençóis freáticos e abastecer as bacias hidrográficas.

“A água se acumula no subsolo ou escorre entre os rios e vai abastecer o rio Paraná, o São Francisco, o Araguaia, o Tocantins e outros. Se essa dinâmica é quebrada com o desmatamento, há uma interferência na capacidade de infiltrar essa água no solo, o que leva a erosões, com o excesso de vazão na época das chuvas e escassez na seca”, explicou.

Lourdes Nascimento ressaltou  que a destruição da vegetação nativa agrava a escassez de água, o que prejudica, principalmente, as populações que vivem e produzem no território e são os verdadeiros guardiões do bioma. Um exemplo de como povos e comunidades tradicionais são fundamentais para a conservação do bioma é o Quilombo Kalunga, em Cavalcante (GO).

De acordo com dados do MapBiomas, o território, localizado na região da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, mantém 83% da sua área com cobertura de vegetação nativa. Enquanto isso, o Brasil tem apenas 48% do bioma Cerrado ainda conservado.

“O agronegócio está instalado no bioma há quatro décadas e consome água em altíssima quantidade para a irrigação de monocultoras de commodities, além de destruir a biodiversidade do Cerrado”, alertou Pedro Bruzzi.

Agenda na COP 28

No dia 8/12, sexta-feira, o coordenador de Políticas Públicas e Advocacy do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), Guilherme Eidt, participará em uma mesa do UNFCCC sobre a normativa europeia que proíbe, na Europa, a entrada de commodities produzidas em áreas desmatadas após 31 de dezembro de 2020. O marco legal é considerado um avanço; no entanto, deixa uma lacuna ao não considerar os ecossistemas não florestais (Other wooded lands), tais como o Cerrado.

A proposta da Rede Cerrado e do ISPN é destacar que a exclusão dos ecossistemas não florestais protege apenas 26% do Cerrado e deixa de cumprir o objetivo inicial de eliminar o desmatamento dos produtos que consome. Isso porque a maior concentração de degradação ambiental nas commodities importadas pela Europa está associada à soja produzida no Cerrado, que contribuiu diretamente para o aumento de 35% do desmatamento nos últimos dois anos (16.437 km²).

Para agravar ainda mais a situação, mais de 4,2 bilhões de toneladas de CO2 já foram emitidos a partir do desmatamento da vegetação primária nesta que é a maior fronteira agrícola do mundo desde 1990 – o que equivale a mais de 6 anos de emissões da União Europeia do setor de energia e contribui para o triste cenário climático do Planeta.

O Cerrado é o bioma mais impactado pelo consumo europeu, com destaque para o desmatamento causado pela soja e a pecuária bovina. Por isso, a Rede Cerrado defende que a Comissão Europeia realize estudos de impacto e faça uma revisão do escopo do Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR) e inclua ecossistemas não florestais.

No dia 10/12, domingo, o ISPN modera a mesa “Os desafios e oportunidades da sociobioeconomia para clima e biodiversidade no Brasil – Inovação, Escala, Inclusão e Conservação”. O painel reúne representantes do governo federal, setor privado e sociedade civil com o propósito de debater temas como ciência e tecnologia, novos modelos de negócios, financiamento, mercados consumidores e territórios sustentáveis.

Acesse aqui a Carta dos Povos do Cerrado para a União Europeia.

Com informações da Rede Cerrado