Por André Garcia
O aumento dos alertas de desmatamento em abril acendeu um sinal de alerta no governo federal, que promete reforçar a articulação entre ministérios e intensificar a fiscalização para evitar a reversão da tendência de queda registrada nos últimos anos. Os dados consolidados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), no entanto, mostram que, mesmo com o avanço pontual, a Amazônia teve em 2024 seu menor índice anual de desmatamento desde 2015.
Segundo o sistema PRODES, que calcula a taxa oficial de desmatamento por corte raso, a Amazônia perdeu 6.288 km² entre agosto de 2023 e julho de 2024. Em relação ao ano anterior, a redução foi de 30,6%. Quando comparado ao pico de 2022, a queda chega a 45,7%. Desde 2012, o único ciclo com resultado mais baixo foi o de 2015, consolidando 2024 como um dos melhores desempenhos da última década.
Governo reage a alta e convoca força-tarefa
Durante coletiva realizada na quinta-feira, 8/5, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reforçou que o governo está mobilizando 19 ministérios para garantir uma resposta rápida.
“Mesmo com o desmatamento em queda, o pico observado em abril exige medidas imediatas. Nossa meta continua sendo o desmatamento zero até 2030, e estamos trabalhando para manter a trajetória de redução”, afirmou.
O secretário-executivo do MMA, João Paulo Capobianco, destacou que o aumento de 55% nos alertas da Amazônia em abril motivou a convocação da Comissão Interministerial de Prevenção e Controle do Desmatamento.
“O mês de abril chama atenção porque foi um aumento significativo. Vamos reorganizar as medidas, identificar os focos principais e fazer os ajustes necessários para manter o desmatamento em queda”, declarou.
Queda no Cerrado interrompe ciclo de alta
No Cerrado, o levantamento também indica avanço no acumulado anual. A taxa de supressão da vegetação nativa em 2024 foi de 8.174 km², o que representa uma queda de 25,7% em comparação com 2023. Essa redução interrompe uma sequência de cinco anos consecutivos de alta no desmatamento no bioma, que vinha registrando crescimento desde 2019.
Pantanal registra melhor desempenho da série
No Pantanal, os dados do sistema DETER mostram uma queda expressiva de 75% nos alertas de desmatamento entre agosto de 2023 e abril de 2024. Somente no mês de abril, a redução foi de 77% em relação ao mesmo período do ano anterior. Nenhuma área com incêndio foi registrada no bioma em abril, segundo os dados divulgados.
Sazonalidade ainda exige atenção
A apresentação do INPE detalha ainda o comportamento sazonal dos alertas. Na Amazônia, o DETER registrou quedas de 5% no período de agosto a abril e de 1% entre janeiro e abril. Ainda assim, o mês de abril isolado apresentou aumento de 55%, o que pode indicar pressão crescente sobre a floresta no início do período seco.
No Cerrado, a tendência foi semelhante: quedas de 25% (ago-abr) e 3% (jan-abr), mas aumento de 26% apenas em abril. Os dados reforçam a importância de monitorar os movimentos recentes do desmatamento, mesmo diante dos resultados positivos no acumulado.
Além do corte raso, o sistema DETER também detecta áreas afetadas por incêndios. Na Amazônia, os dados de abril mostram alta nas áreas sob alerta de fogo em relação à média histórica, embora os números consolidados por km² não tenham sido detalhados na apresentação. Essa informação complementa a análise da degradação ambiental, especialmente em anos com tendência de seca prolongada.
Série histórica mostra impacto das políticas
Por fim, a série histórica apresentada pelo INPE evidencia o impacto das políticas de controle nos diferentes biomas. A Amazônia, que chegou a registrar mais de 13 mil km² de desmatamento em 2022, agora mostra sinais de reversão dessa curva. No Cerrado, a primeira queda após cinco anos de alta pode indicar uma mudança de direção. E no Pantanal, os dados de 2024 são os melhores da série apresentada, tanto em desmatamento quanto em incêndios.
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