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Desmate causou queima de quase 5 milhões de hectares em MT

Desmate causou queima de quase 5 milhões de hectares em MTNo Cerrado, 20 milhões de hectares foram incendiados em áreas desmatadas. Foto: CBMMS

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Por André Garcia 

Quase 5 milhões de hectares de vegetação nativa foram queimados em Mato Grosso por incêndios que começaram em áreas desmatadas. A proporção de fogo que escapou para além das áreas convertidas no estado chega a 96,8%, uma das maiores entre os cinco estados do Cerrado analisados por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).

A pesquisa avaliou um total de 105,1 milhões de hectares em Mato Grosso, Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia entre os anos de 2003 e 2020. O objetivo foi identificar a relação entre desmatamento e fogo no Cerrado, bioma que vem registrando picos de destruição em razão da expansão agrícola e do uso do fogo como método de limpeza de áreas desmatadas.

De acordo com o estudo, 20 milhões de hectares de vegetação nativa foram atingidos por incêndios iniciados em áreas convertidas. Em 93% dos casos, o fogo escapou do perímetro desmatado e atingiu vegetações preservadas. Apenas 7% das queimadas permaneceram restritas às áreas onde o desmatamento foi realizado.

“A pesquisa mostra que o fogo não fica restrito às áreas desmatadas. Ele escapa para o entorno, atingindo vegetações que não foram convertidas. Mesmo que não intencionalmente, esses incêndios impactam a vegetação nativa”, afirma Ana Carolina Pessôa, pesquisadora do IPAM e coautora do estudo.

Tocantins lidera em área queimada

O maior volume de vegetação nativa atingida pelo fogo foi registrado no Tocantins: 6,4 milhões de hectares, ou 33,1% da vegetação nativa do estado. Mato Grosso aparece em seguida, com 4,8 milhões de hectares, e o Maranhão com 4,5 milhões. No Piauí, foram 2,3 milhões de hectares, e na Bahia, 2,1 milhões — único estado onde a área desmatada foi maior que a área queimada.

O levantamento mostra ainda que incêndios relacionados ao desmatamento ocorrem principalmente no fim da estação seca, quando a vegetação está mais inflamável, o que aumenta o risco de propagação. A comparação com os focos de incêndio não relacionados à supressão vegetal permitiu diferenciar os padrões de comportamento do fogo.

“A tendência é que esses escapes aumentem ainda mais com o avanço da emergência climática. Esses resultados reforçam a necessidade de eliminar as fontes de ignição, e que torna fundamental a redução do desmatamento como uma das principais estratégias para limitar a área atingida pelo fogo no bioma”, completa a pesquisadora.

Picos de desmatamento

A área analisada reúne regiões com históricos diferentes de desmatamento. Mato Grosso registrou seus maiores picos entre as décadas de 1970 e 1990. Já os estados do MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) enfrentaram uma onda de conversão entre 2007 e 2008 e voltaram a liderar o desmatamento no país nos anos de 2023 e 2024.

As propriedades privadas concentram a maior parte da vegetação queimada por fogo relacionado ao desmatamento: 14,7 milhões de hectares. Nessas áreas, o impacto atingiu 27% da vegetação nativa. Em seguida aparecem áreas públicas de uso sustentável (1,4 milhão de hectares), terras indígenas (1,2 milhão) e unidades de conservação de proteção integral (362 mil hectares).

Para identificar a origem dos incêndios, os pesquisadores cruzaram dados do PRODES Cerrado, MapBiomas e Global Fire Atlas. Foram considerados incêndios relacionados ao desmatamento aqueles que ocorreram até dois anos após a supressão da vegetação, iniciados dentro ou num raio de até 1 km das áreas convertidas.

 

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