A crise climática em Mato Grosso, marcada por secas prolongadas e chuvas irregulares, ameaça a segurança alimentar e a economia rural do estado. A professora e pesquisadora da Unemat, Solange Kimie Ikeda Castrillon, alerta que a falta de chuvas e a degradação de nascentes podem causar um cenário de desespero para produtores.
“Vai faltar comida, vai faltar pasto. Não é só terra que a gente precisa pra ter boi. Se não chover em outubro, novembro e dezembro, quem trabalha com plantação e criação entrará em desespero”, alertou a pesquisadora, que reforça o alerta sobre um clima fora de controle que exige ação urgente.
Bióloga e doutora em Ecologia, Ikeda explica que os efeitos do aquecimento global se intensificam com a destruição de florestas e de áreas que possibilitam a infiltração da água. A ausência de cobertura vegetal, segundo ela, compromete o equilíbrio do clima, afetando o regime de chuvas e a disponibilidade de água.
A pesquisadora ressalta que Mato Grosso, que abriga três biomas essenciais – a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal -, tem um papel estratégico no enfrentamento da emergência climática, mas o avanço do desmatamento coloca o funcionamento desses ecossistemas em risco.
Dados do ICV (Instituto Centro de Vida) de 2024 mostram que 78,6% do desmatamento na Amazônia mato-grossense ocorreu sem autorização legal, e no Cerrado o índice de ilegalidade foi de 63,6%.
Os impactos da destruição não se limitam ao meio ambiente. A pesquisadora Solange Ikeda alerta para consequências imediatas e a longo prazo, como o aumento da temperatura, a escassez de água e problemas de saúde generalizados.
“Estamos com a temperatura aumentando, com diminuição de chuvas, com problemas de falta de água, contaminação de água e problemas de saúde de forma generalizada. Já é uma preocupação a escassez hídrica. Agora, com a degradação das nascentes, se essa água vier contaminada, o problema se agrava”, destaca Ikeda.
Ela também projeta um cenário futuro sombrio, onde a sociedade pode sentir falta da mata que permitia um clima mais ameno e mantinha um solo saudável.
“Pode ser que, no futuro, sintamos falta daquela mata que permitia uma temperatura mais amena, que fazia as chuvas acontecerem ali e mantinha um solo ainda saudável”, afirma.
Árvores pela sobrevivência
Em Cáceres (MT), onde vive, Ikeda participa de projetos de restauração ecológica com professores, pequenos agricultores e crianças, envolvendo plantio de mudas nativas e ações de educação ambiental. Ela reforça que preservar e plantar árvores é decisivo para o futuro.
“Os estudos indicam que, no futuro, lugares onde houver árvores vão determinar se as pessoas vão sobreviver ou não. Um lugar totalmente desmatado, com aumento da temperatura, não oferece conforto térmico nem saúde”, conclui a professora.
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