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Desperdício zero: agro está transformando resíduos em lucro

Desperdício zero: agro está transformando resíduos em lucroResíduos se tornam receita para o setor. Foto: Governo de MS

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Por André Garcia

Imagine um sistema no qual não há desperdícios: os recursos são continuamente reaproveitados, se tornando insumos para um ciclo produtivo que nunca para. É isso que propõe a economia circular. No agro, onde a eficiência é essencial para a lucratividade, a proposta encontra campo fértil. Parte do empresariado já enxergou isso e começa a transformar o que antes era descarte em oportunidade de negócio.

Em Cuiabá, onde são consumidos mensalmente 50 toneladas de coco, o empreendedor Paulo Teodoro, da Bioativa Indústria de Fertilizantes, tem dado um novo destino aos resíduos da fruta.  Após a extração da casca, o material é queimado por meio da pirólise, um processo não poluente que o transforma em carvão. O resultado é uma “areia” capaz de corrigir o solo e reter água e nutrientes para a plantação.

“O volume de consumo, que é consideravelmente grande para uma cidade como a nossa, se torna um problema, pois ele tem o potencial de diminuir a vida útil dos nossos aterros sanitários, por exemplo. Mas, eu vi neste problema, uma solução: a produção do ‘biochar’, que é um fertilizante natural, produzido a partir de resíduos do fruto”, conta.

Fertilizante de coco é solução para descarte da fruta. Foto: Sebrae

O projeto para criação do produto foi desenvolvido com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em conjunto com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).

Grandes empresas do setor de alimentos têm investido pesado para transformar cada subproduto em fonte de receita e inovação, como mostra o caso da JBS, que reaproveita 99% dos materiais de cada bovino processado. Em aves e suínos, o porcentual é de quase 95%, conforme a empresa.

“Reunimos operações que transformam os subprodutos e materiais não aproveitados do processamento da carne bovina, suína e de aves em produtos de alto valor agregado em áreas como biodiesel, colágeno, envoltórios para embutidos, rações, insumos fármacos, materiais de higiene e limpeza”, destaca Nelson Dalcanale, presidente da JBS Novos Negócios.

Os ossos e a hemoglobina, por exemplo, são matéria-prima para rações de animais. O couro, também. A superfície do material é aproveitada para confecção de calçados, bolsas, estofados etc. Já a camada de baixo é transformada em colágeno.

A Genu-in, empresa da JBS Novos Negócios, produz 12 mil toneladas de colágeno e gelatina por ano. O Orygina usa colágeno para fornecer produtos para a indústria farmacêutica, centros de pesquisa e outros mercados focados em tecnologia. Já a Novapron+ produz soluções proteicas de alta funcionalidade a partir de colágeno bovino que melhoram a textura, suculência, rendimento e estabilidade de alimentos.

“Para cada resíduo temos que achar uma destinação e tratar de agregar valor e não poluir o meio ambiente”, afirma Dalcanale.

Potencial para o Brasil

A proposta da economia circular ganhou impulso com o Plano Nacional de Economia Circular (PLANEC). Aprovado em maio deste ano, estabelece as diretrizes para que empresas, produtores e consumidores adotem práticas mais sustentáveis e inteligentes em todo o país. O documento consolida um novo modelo de desenvolvimento, mais resiliente, regenerativo e competitivo.

Um estudo da Ambipar, baseado em dados do SNIS/Ministério das Cidades (2023), projeta que a adoção plena de um sistema econômico circular no Brasil pode injetar R$ 11 bilhões anuais na economia nacional e criar cerca de 240 mil empregos até 2040. Essa transição envolve a aplicação de soluções sustentáveis e integradas que reutilizam e regeneram materiais, evitando a exploração excessiva dos recursos naturais.

Fortalecendo políticas públicas

Esse movimento também começa a se refletir em ações concretas por parte do poder público. Em Mato Grosso do Sul, graças a uma parceria do governo com o setor privado, uma mistura de lodo de tratamento de esgoto e esterco que vira fertilizante orgânico para as lavouras de agricultores familiares, quilombolas e indígenas.

O projeto visa utilizar 100% do lodo das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) da MS Pantanal, transformando-o em fertilizante por meio de processos de compostagem com esterco bovino e outras técnicas desenvolvidas pela Organics. Com esta iniciativa, MS se torna o único estado do Brasil a utilizar integralmente o lodo das ETEs de sua concessionária Estadual de água e esgoto de forma totalmente sustentável e circular”

“Identificamos uma possibilidade técnica, de a partir do lodo, se criar um fertilizante, totalmente habilitado, credenciado e apto a gente poder destinar isso tanto comercialmente como para os produtores da agricultura familiar”, explicou o secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento, Jaime Verruck.

 

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