HomeEcologia

Como os microplásticos podem afetar a agricultura

Como os microplásticos podem afetar a agriculturaA conexão está na cadeia alimentar dos peixes. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

China habilita 183 empresas brasileiras a exportar café para o país
Clima e exportação por trás da alta do café
Café e carne bovina podem ganhar espaço nos países árabes

A contaminação de peixes por microplásticos é um problema que se estende para além dos ecossistemas aquáticos, impactando diretamente a produção agrícola. A morte de peixes pode diminuir a disponibilidade desse alimento, mas também desencadeia um efeito em cascata que afeta culturas de grande importância para a agricultura brasileira.

O alerta foi feito por Décio Luis Semensatto Junior, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). De acordo com ele, a explicação para essa conexão está na cadeia alimentar. As informações são da Agência Fapesp.

“É preciso que o problema da ingestão de microplásticos por peixes deixe de ser analisado isoladamente e que seus impactos ambientais passem a ser avaliados de forma integrada, porque os ecossistemas aquáticos e terrestres estão conectados”, disse Semensatto.

Os peixes são predadores naturais das larvas de libélulas (Anisoptera), que vivem na água, explicou o pesquisador. Por sua vez, esses insetos alados são predadores de algumas espécies de abelhas polinizadoras de flores e frutos de grande importância econômica.

Dessa forma, a diminuição da população de peixes causada pela ingestão de microplásticos leva a um aumento de larvas de libélulas. Consequentemente, haverá mais libélulas predando abelhas, o que reduz o número desses polinizadores essenciais. O resultado é a diminuição da produção de culturas agrícolas importantes como a soja, o café, o feijão e a laranja.

“Para aumentar a produção vegetal é preciso proteger os peixes [contra a contaminação por microplásticos], porque a natureza está conectada”, reiterou Semensatto.

A tragédia dos microplásticos

Os microplásticos, derivados da degradação de itens maiores como garrafas e sacolas, estão por toda parte, inclusive no Rio Amazonas. Além disso, as características químicas e físicas desses materiais mudam ao longo do tempo, gerando partículas ainda menores, os nanoplásticos, que podem ser ainda mais difíceis de rastrear e de conter.

Segundo o pesquisador Décio Luis Semensatto Junior, a lentidão nas negociações sobre a poluição plástica é um problema sério, pois a produção de plásticos está diretamente ligada aos combustíveis fósseis, e “os plásticos são combustíveis fósseis em movimento”. A solução exige uma análise integrada, que conecte os problemas ambientais dos ecossistemas aquáticos e terrestres para proteger a agricultura e a vida.