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ILPF avança com tecnologia e atrai financiamento sustentável

ILPF avança com tecnologia e atrai financiamento sustentávelO Brasil já conta com cerca de 17,4 milhões de hectares sob o ILPF. Foto: Embrapa

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Por Renata Vedovato

O agronegócio brasileiro atravessa uma revolução silenciosa: a adoção crescente do sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) está abrindo caminho para produzir mais e de forma mais sustentável. Essa estratégia, que une lavoura, pecuária e floresta na mesma área, aparece como resposta à pressão por eficiência, restauração de terras e mitigação ambiental.

A ILPF consiste em integrar, na mesma propriedade rural, sistemas agrícolas, pecuários e florestais, seja em sucessão, rotação ou consórcio.

“A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) promove a recuperação de áreas de pastagens degradadas, agregando, na mesma propriedade, diferentes sistemas produtivos, como os de grãos, fibras, carne, leite e agroenergia”, diz Renato Rodrigues, presidente da Rede ILPF. “Mas os benefícios vão além da simples diversificação: o sistema reduz a abertura de novas áreas, melhora a fertilidade do solo, ajuda a manter cobertura, biodiversidade e sequestra carbono”, completa.

Em 2025, o ILPF ganhou visibilidade renovada. Dados da Rede ILPF indicam que o Brasil já conta com aproximadamente 17,4 milhões de hectares sob esse sistema — com potencial de expandir para até 150 milhões de hectares de pastagens convertíveis, sem a necessidade de abrir novas áreas. Essa expansão tem sido impulsionada pelo programa Integra, que em 2024 se expandiu para estados como Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, focando na difusão de conhecimento e tecnologia, além de facilitar o acesso a linhas de crédito sustentáveis.

Até 2030, 3 milhões desses hectares já terão, também, certificação e podem atrair até US$ 700 bilhões de fundos de investimentos, estima a Rede. O potencial econômico do sistema é reforçado pela sua capacidade de gerar renda em três horizontes de tempo: no curto prazo, com as lavouras; no médio, com a pecuária; e no longo prazo, com o componente florestal.

“Com essa diversificação de culturas na mesma área, você está saindo da monocultura. Você tem menor incidência de pragas, um trabalho dos microrganismos do solo fazendo um trabalho maravilhoso, preservando nascentes, preservando as áreas de preservação permanente e os cursos da água”, explica Rodrigues.

Tecnologia e Financiamento Sustentável

O avanço do ILPF também está sendo acompanhado por inovações tecnológicas e novos mecanismos de financiamento. Em agosto de 2025, uma pesquisa da Embrapa e ESALQ/USP demonstrou o potencial da Inteligência Artificial (IA) e de modelos geoespaciais para monitorar e mapear áreas de ILPF em larga escala. O uso de modelos fundacionais, pré-treinados com grandes volumes de imagens de satélite, promete superar o desafio do mapeamento tradicional, que não consegue acompanhar a dinâmica de rotação e consórcio do sistema. A consolidação desses sistemas de monitoramento é vista como um fator chave para motivar o poder público a desenvolver políticas de incentivo.

No campo financeiro, o sistema ILPF tem sido incluído nas práticas de agricultura de baixo carbono financiáveis por diversos bancos de desenvolvimento, como BNDES, BDMG e Plano Safra, com prazos maiores de pagamento e de carência.

Esse avanço se alinha às metas de agricultura de baixa emissão de carbono e ao reconhecimento internacional do modelo brasileiro de agronegócio sustentável. “O Brasil tem condições de ser a maior potência de produção sustentável de alimentos do planeta”, afirma o pesquisador.