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Clima impulsiona uso de defensivos e desafia futuro do agro

Clima impulsiona uso de defensivos e desafia futuro do agroUso de produtos químicos pode se tornar menos eficiente. Foto: Idec

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Por André Garcia

Impulsionadas pelas mudanças climáticas, pragas e doenças avançam sobre as lavouras brasileiras, que devem alcançar 2,6 bilhões de hectares de área tratada (PAT) com defensivos agrícolas em 2025. A estimativa é do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Vegetal (Sindiveg) e representa uma alta de 3,4% em relação a 2024.

Segundo o levantamento, feito pela Kynetec Brasil e divulgado nesta segunda-feira (27), o aumento se deve ao uso mais intenso desses produtos para conter lagartas, pragas sugadoras e doenças fúngicas. Isso ocorre sobretudo nas lavouras de milho e soja, que vêm exigindo mais aplicações durante o ciclo produtivo.

Os dados também refletem um fenômeno mais amplo: as mudanças climáticas estão criando condições favoráveis à proliferação de fungos, vírus, insetos e outros vetores.  Neste cenário, pesquisadores da Embrapa alertam que 46% das doenças agrícolas do país deve se tornar mais severa até o fim do século.

“O enfrentamento desses desafios exige políticas públicas eficazes e um esforço coordenado entre agricultores, cientistas e governos para garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade do setor agrícola”, afirma a pesquisadora Francislene Angelotti.

Culturas mais afetadas

O aumento da temperatura global já pressiona o agronegócio, exigindo mais aplicações ao longo do ciclo produtivo. No ano passado, a soja respondeu por 55% da área tratada no País, seguida por milho (18%), algodão (8%) e pastagens (5%).

Regionalmente, Mato Grosso e Rondônia lideram, concentrando 32% da área tratada no Brasil. Bahia, Maranhão, Tocantins, Piauí e Pará responderam por 18%, seguidos por São Paulo e Minas Gerais (13%), Rio Grande do Sul e Santa Catarina (10%), Paraná (9%), Goiás e Distrito Federal (8%), e Mato Grosso do Sul, também com 8%.

Produtividade em jogo

Esse cenário exige ajustes nas estratégias de controle fitossanitário, uma vez que a dinâmica dos fungicidas nas plantas – ou seja, a maneira como são absorvidos, transportados e degradados -, pode se alterar, provocando também alterações morfológicas e fisiológicas nas lavouras.

Diante disso, a Embrapa indica que o uso de produtos químicos pode se tornar menos eficiente ou exigir mais aplicações, o que aumenta custos e riscos ambientais – uma nova realidade que já impulsiona a busca por alternativas, especialmente os chamados agentes biológicos de controle, como os biopesticidas.

Biocontrole precisa avançar

O Brasil é hoje o maior produtor e consumidor de biopesticidas do mundo e tem a maior área agrícola sob controle biológico. Segundo projeção da consultoria Research and Markets, o mercado global desses produtos deve atingir US$ 19,49 bilhões até 2030.

Apesar do protagonismo, pesquisadores alertam que o País precisa reforçar a adaptação desses bioagentes às novas condições climáticas.

“Precisamos desenvolver, com urgência, bioherbicidas e produtos biológicos que aumentem a eficiência do uso de nitrogênio e reduzam o estresse abiótico das plantas”, defende o pesquisador Wagner Bettiol.

 

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