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ILPF pode gerar cerca de 300 mil empregos no brasil

ILPF pode gerar cerca de 300 mil empregos no brasilILPF foi desenvolvido no Brasil no início da década de 90. Foto: Embrapa

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Um estudo, resultado de uma parceria entre o Banco Mundial e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), revela o grande potencial econômico e social da agricultura sustentável no Brasil. A reabilitação de 43 milhões de hectares de pastagens degradadas na Amazônia e no Cerrado, por meio do sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), tem o potencial de mobilizar cerca de 300 mil empregos.

Essa projeção de empregabilidade representa um aumento substancial de 20,6% nos empregos formais do setor agrícola brasileiro.

O dado é parte de uma publicação que reúne evidências econômicas e recomendações para ampliar a adoção de sistemas de produção sustentáveis, como o ILPF e os Sistemas Agroflorestais (SAFs).

Pela primeira vez no Brasil, análises sobre o ILPF e os SAFs foram além do desempenho ambiental e agronômico para demonstrar o retorno financeiro aos produtores. A avaliação, focada nos estados de Mato Grosso, Pará e Rondônia, documentou, ainda, ganhos significativos de produtividade, segurança alimentar, conservação ambiental e resiliência climática.

O ILPF foi desenvolvido no Brasil no início da década de 1990, com o objetivo de impulsionar a intensificação da agricultura de forma sustentável no Cerrado e na Amazônia.

Mais empregos e renda

Os sistemas de integração funcionam otimizando a produção em terras agrícolas já existentes. Ao fazer isso, reduzem a necessidade de expandir as atividades para ecossistemas naturais, ajudando a mitigar o desmatamento e a apoiar a conservação da biodiversidade.

Segundo o economista agrícola sênior Leonardo Bichara, do Banco Mundial, os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) desencadeiam novas oportunidades de trabalho em diversas cadeias produtivas.

“A expansão dos sistemas agroflorestais e de integração lavoura, pecuária e floresta no Brasil vai gerar mais empregos porque eles intensificam a produção da terra para mais de um setor, incluindo agricultura, pecuária, extrativismo e indústria madeireira”, explica Bichara.

Sistemas agroflorestais

Já os SAFs são especialmente adequados para a agricultura familiar devido ao seu menor nível de mecanização e ao uso de mão de obra intensiva. Eles combinam, na mesma área e em períodos determinados, espécies perenes (como árvores frutíferas ou madeireiras), cultivos semiperenes (como banana ou mandioca) e plantios de ciclo curto (como grãos).

O pesquisador Júlio César dos Reis, da Embrapa Cerrados (DF), destaca o elevado potencial de geração de receita, empregos e renda dos SAFs no meio rural.

“A combinação de espécies agrícolas, florestais e frutíferas de diferentes ciclos produtivos […] proporciona a geração de um fluxo de receita constante para os produtores, oferecendo condições para que eles possam esperar a maturidade produtiva das espécies florestais – geralmente aquelas com maior valor agregado e que oferecem a sustentabilidade econômica desses sistemas,” detalha Reis.

A característica de combinar diferentes ciclos produtivos nos SAFs gera demanda contínua de mão de obra local para plantio, colheita, beneficiamento e manejo, criando empregos permanentes e qualificados.

Atualmente, o ILPF ocupa 17 milhões de hectares no país, o que representa 8% da área agropecuária, segundo dados da Rede ILPF. Ainda não há uma estimativa robusta sobre a área ocupada por SAFs.

Políticas de crédito

As informações detalhadas sobre o desempenho econômico dos sistemas integrados de produção na Amazônia e no Cerrado servirão de subsídio para as políticas do Banco Mundial e poderão contribuir para inserir esses sistemas em políticas nacionais de crédito, como o Plano Safra da Agricultura Familiar.

O estudo aponta, no entanto, que as atuais políticas de crédito rural, como o Plano Safra e o Plano ABC, representam barreiras, pois focam em resultados anuais e não estão alinhadas ao fluxo de caixa de longo prazo dos sistemas sustentáveis. O documento sugere ajustes para que os mecanismos de crédito considerem resultados econômicos, sociais e ambientais de longo prazo.

A publicação também recomenda melhorias na assistência técnica, na disponibilidade de mão de obra qualificada e no investimento em infraestrutura (como ferrovias e hidrovias) para aumentar a competitividade e abrir novos mercados.

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