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Redução de 75% das cheias ameaça equilíbrio no Pantanal

Redução de 75% das cheias ameaça equilíbrio no PantanalPoente no Rio Paraguai, em Corumbá (MS). Foto: Agência Senado/Raphael Lopes

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Por André Garcia

O Pantanal, a maior planície alagável do mundo, atravessa o período mais seco das últimas quatro décadas. Segundo o MapBiomas, a área coberta por água encolheu 75% desde 1985, caindo de 1,6 milhão para 460 mil hectares — uma mudança que redesenha o ritmo das cheias e secas.

Divulgados nesta quarta-feira (12), no Dia do Pantanal, os números trazem um alerta global, já que o enfraquecimento do pulso das águas compromete o equilíbrio que mantém o clima estável e a base produtiva da região, fundamental para a segurança alimentar. Uma notícia alarmante revelada em meio à COP30, que acontece em Belém (PA) até 21 de novembro.

De acordo com o levantamento, o ano de 2024 foi o mais seco de toda a série histórica: a área alagada ficou 73% abaixo da média. A última grande cheia, registrada em 2018, foi 22% mais seca do que a primeira grande cheia da série, em 1988 – sinal de que o bioma enfrenta um ciclo de estiagens cada vez mais prolongadas.

O impacto vem do planalto

A explicação para essa transformação começa fora da planície. O estudo aponta que as principais alterações ocorreram no Planalto da Bacia do Alto Paraguai, onde nascem os rios que abastecem o Pantanal. Entre 1985 e 2024, a vegetação nativa caiu 37%, e as áreas agropecuárias praticamente dobraram, alcançando 40% da bacia.

Em Mato Grosso, a cobertura natural no planalto caiu de 72% para 46%. Em Mato Grosso do Sul, de 59% para 36%. Nesse período, a agricultura cresceu quase quatro vezes — a soja responde por 80% das novas áreas abertas — e a pecuária avançou 4,4 milhões de hectares sobre formações naturais.

“A perda de florestas e savanas fragiliza a proteção dos solos nas cabeceiras do bioma, o que interfere no fluxo de água que chega à planície. Em 1985, 33% do planalto, ou sete milhões de hectares, já eram de uso antrópico. Em 2024, praticamente 60% do planalto é antropizado”, explica Eduardo Reis Rosa, coordenador da equipe Pantanal do MapBiomas.

Solos mais frágeis, pastagens com menor vigor

O levantamento também analisou a qualidade das pastagens, apontando um quadro de degradação crescente. Em 2024, 63% das áreas de pasto no planalto e 85% na planície apresentavam baixo ou médio vigor vegetativo — um indicador de menor cobertura do solo e perda de fertilidade natural.

Essas mudanças comprometem a retenção da água e aumentam a erosão, afetando diretamente o ciclo hídrico que abastece o Pantanal e reduzindo a resiliência das áreas produtivas.

Mesmo a Planície Pantaneira, onde ainda predomina a vegetação nativa, perdeu 1,7 milhão de hectares de cobertura natural em 40 anos. Hoje, 84% do bioma ainda é natural, mas a conversão para pastagens e o avanço da mineração — que cresceu 60% na última década — ampliam as pressões sobre o equilíbrio das águas.

Quatro décadas de mudanças

A análise histórica do MapBiomas mostra que o Pantanal e o Planalto da Bacia do Alto Paraguai passaram por transformações profundas desde 1985. Cada década revela uma etapa distinta desse processo de ocupação e perda de áreas naturais:

1985–1994 – Década de maior conversão de áreas naturais em pastagens. O planalto perdeu 2,6 milhões de hectares de vegetação nativa (−12%), enquanto o pasto dobrou de área, substituindo formações savânicas e florestais.

1995–2004 – O desmatamento avança para o interior da planície, com perda de 527 mil hectares de vegetação nativa (−3% no bioma). No planalto, a redução chega a 9%.

2005–2014 – Início da redução das cheias e adensamento da vegetação lenhosa. Savanas se expandem sobre campos e pastagens; tanto a planície quanto o planalto perdem 1,5% de vegetação natural.

2015–2024 – Década mais seca da série histórica. A área alagada diminuiu 1,2 milhão de hectares em relação à primeira década. A planície perde 450 mil hectares de vegetação nativa; o planalto mantém 42% de áreas naturais, e o Pantanal, 84%.

 

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