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Dia do Pantanal: alto valor ambiental e produtivo

Dia do Pantanal: alto valor ambiental e produtivoFazenda Pantaneira Sustentável é um dos exemplos em destaque. Foto: Senar/MS

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Por André Garcia

Marcado por um histórico recente de destruição, o Pantanal começa a se reposicionar na agenda climática como território de soluções, onde ciência, políticas públicas e agronegócio avançam juntos rumo ao desenvolvimento. Hoje, 93% de sua área está em propriedades privadas e 84% permanece conservada, o que faz dele uma vitrine de alto valor ambiental e produtivo — e exemplo para outras regiões.

Não à toa, nesta quarta-feira (12/11), data dedicada ao bioma, iniciativas bem-sucedidas ganham destaque na COP30, em Belém (PA), e na inédita COP Pantanal, em Cáceres (MT). Entre as apostas em debate está a Fazenda Pantaneira Sustentável (FPS), projeto desenvolvido pela Embrapa local em parceria com diversas instituições, que garante suporte aos produtores para uma gestão mais eficiente.

O programa inclui uma ferramenta que combina sensoriamento remoto, verificação em campo e inteligência artificial, para avaliar critérios ambientais, econômicos e sociais em 45 propriedades, que somam 275.325 hectares e 165.195 cabeças de gado. O objetivo é abrir caminho para certificações, financiamentos e pagamentos por serviços ambientais (PSA), por exemplo.

“O processo de creditação, em andamento, cria bases sólidas para atrair recursos não reembolsáveis voltados a práticas sustentáveis, além de gerar segurança técnica e ambiental para investimentos reembolsáveis, fortalecendo a confiança do mercado e impulsionando negócios de impacto no Pantanal”,  explica Thiago Coppola, da Embrapa Pantanal.

Novos mercados

De olho no mercado de carbono, a Embrapa lançou, nesta terça-feira (11), o  Atlas do Estoque de Carbono em Formações Vegetais da Bacia do Alto Paraguai – Mato Grosso (Carbopan). O projeto foi desenvolvido pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), em parceria com a Embrapa Gado de Corte e a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).

Segundo o coordenador da pesquisa, professor Fábio Ayres (UEMS), o aumento do estoque de carbono é estratégico, pois mantém o carbono fixado na vegetação e no solo, reduzindo as emissões e abrindo oportunidades no mercado de carbono. Municípios como Poconé-MT (33,42 t/ha) e Barão de Melgaço-MT (28,78 t/ha) apresentam altos índices de estoque por hectare, evidenciando esse potencial.

“O Atlas fornece base científica para o planejamento territorial sustentável, valoração de ativos ambientais, formação de políticas públicas e captação de recursos internacionais”, afirma Ayres. “A conservação do Pantanal promove resiliência ecológica, segurança hídrica e fortalecimento da economia local, sem abrir mão da proteção da biodiversidade”, complementa.

Ativo ambiental

Desta forma, o Pantanal se posiciona como ativo ambiental relevante nas discussões globais, contribuindo para os compromissos do Brasil na COP30 e para as estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. De acordo com o presidente da Acrimat, Oswaldo Pereira Ribeiro Jr., esse movimento só reforça o que o verdadeiro produtor pantaneiro já pratica há gerações: o respeito ao meio ambiente.

“A pecuária extensiva no Pantanal é uma das atividades mais sustentáveis do mundo, pois mantém a vegetação nativa em pé e contribui para o equilíbrio do bioma. Ter agora uma base científica sólida, feita por instituições como a UEMS e a Embrapa, mostra que conservar e produzir podem andar juntos e que o Pantanal é parte essencial das soluções climáticas do Brasil”, afirma.

Com 84% de sua área conservada, o Pantanal pode inspirar ações em outros biomas. Foto: Embrapa Pecuária Sudeste/Sandra Santos

Governança e regulação em pauta

Além das soluções técnicas e produtivas, o Pantanal também se projeta na agenda climática por meio de ações de controle e regulação ambiental. Um exemplo é o Estatuto do Pantanal, sancionado em outubro, estabelece regras federais para o uso, a conservação e a recuperação do bioma. A lei integra as legislações estaduais e encerra uma lacuna jurídica sobre o tema.

Ainda sobre regulação, o debate sobre o uso de agrotóxicos ganhou espaço na COP Pantanal. Reunindo o Ministério Público Federal (MPF-MT), universidades e organizações civis, o Fórum Mato-grossense de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos (FMTCIA) propõe incluir o tema entre as prioridades da agenda climática, levando proposta de controle e fiscalização à Carta do Pantanal — documento final do evento.

O procurador da República, Gabriel Infante Martins, presidente do FMTCIA, aponta que o enfrentamento à crise climática passa por modelos de produção mais seguros e socialmente responsáveis. “É preciso integrar a pauta dos agrotóxicos à agenda climática, garantindo que as propostas de controle cheguem à COP30, reforçando que é possível produzir com riqueza, respeitando a vida e o futuro”, pontua.

 

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