Por André Garcia
Políticas e investimentos climáticos funcionam melhor quando recompensam a pecuária sustentável. A avaliação apresentada durante a COP30, em Belém (PA), reforça um debate cada vez mais urgente: a importância de valorizar o campo pela conservação do solo, melhoria das pastagens, aumento de matéria orgânica e pela remoção de carbono.
As práticas foram citadas no painel “Campos de Valor: Recompensar os pecuaristas que trabalham em prol da natureza”, promovido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Na ocasião, os resultados de um estudo da FAO apontaram ainda que é preciso avaliar a pecuária de forma mais completa. Em vez de olhar só para um dado isolado, como a emissão de gases, a análise deve considerar todo o sistema produtivo, incluindo manejo, tipo de pastagem, uso do solo e os benefícios ambientais gerados.
Financiamento ainda distante do produtor
Ao demonstrar que a pecuária entrega muito mais do que apenas emissões, o estudo reforça a necessidade de apoiar financeiramente sistemas produtivos mais eficientes. O problema é que hoje apenas 4% do financiamento climático global chega aos setores agroalimentares, o que dificulta a escalada de boas práticas.
O cenário é desafiador. Segundo a FAO, a fome atinge cerca de 700 milhões de pessoas e a crise climática tende a reduzir ainda mais a produtividade agropecuária. Hoje, um terço das terras agrícolas do planeta já está degradado, o que evidencia a urgência de frear esse processo.
Acesso à tecnologia como resposta
Foi nesse contexto que o representante da FAO no Brasil, Jorge Meza, reforçou a necessidade de ampliar o acesso a tecnologia, ciência e dados no meio rural.
“A demanda global por alimentos de origem animal está aumentando, ao mesmo tempo que as pressões climáticas estão se intensificando. Tecnologia, ciência e dados devem ser acessíveis a todos, especialmente aos pequenos produtores, jovens e mulheres, que são a espinha dorsal deste setor”, afirmou.
De acordo com os especialistas, quando essas medidas chegam de forma acessível ao campo, elas ajudam a acelerar compromissos assumidos pelo Brasil, como as metas do Acordo de Paris, das Convenções do Rio e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
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