Combater o desmatamento não só protege a floresta, como também salva vidas, é o que aponta o novo estudo do projeto Amazônia 2030, “Combater o desmatamento reduz a criminalidade na Amazônia“. A pesquisa mostra que o fortalecimento da fiscalização ambiental, especialmente a partir do sistema de monitoramento por satélite DETER, implementado em 2006, reduziu em cerca de 15% o número de homicídios na região, o equivalente a 1.477 mortes evitadas por ano.
Os resultados indicam que políticas ambientais eficazes funcionam também como políticas de segurança pública, com impacto direto sobre conflitos fundiários, expansão de mercados ilegais e atuação do crime organizado nas fronteiras do desmatamento.
Para o agronegócio brasileiro, que busca cada vez mais a excelência e a competitividade global, essa constatação possui uma importância crucial que transcende a ética e a sustentabilidade ambiental. A redução da violência e a consolidação da presença do Estado em áreas de fronteira do desmatamento representam um ganho de estabilidade institucional fundamental.
Onde prevalece o desmatamento ilegal, a grilagem e os mercados ilícitos, o que se observa é uma insegurança jurídica crônica. Essa falta de controle dificulta a delimitação clara de propriedades, expõe produtores rurais a conflitos fundiários e impede o desenvolvimento de cadeias produtivas de forma legal e transparente.
Ao elevar os custos das atividades ilegais e reduzir a atuação de redes criminosas, a fiscalização ambiental (com destaque para o DETER) permite que o agronegócio legítimo, baseado em terra regularizada e produção sustentável, possa operar em um ambiente de maior segurança e menor risco.
Essa estabilidade é essencial para atrair investimento de longo prazo, obter crédito com melhores condições e garantir o acesso a mercados internacionais cada vez mais exigentes com rastreabilidade e cumprimento de normas socioambientais. Em suma, o combate ao crime ambiental não apenas salva vidas, mas também valoriza a produção e a imagem do setor perante o mundo.
Explosão da violência
Enquanto o Brasil reduziu suas taxas de homicídio na última década, a Amazônia seguiu trajetória oposta. De 2006 a 2016, os municípios amazônicos viram a violência explodir: a taxa de homicídios subiu de 33,1 para 52,1 por 100 mil habitantes, aumento de 57,3%, muito acima do restante do País.
O estudo explica que essa violência tem características próprias: ocorre majoritariamente em áreas rurais, próximas a frentes de desmatamento, garimpo ilegal, grilagem e exploração madeireira, territórios onde o Estado historicamente exerce pouca presença.
Conduzido pelos pesquisadores Rafael Araujo, Vítor Possebom e Gabriela Sett, o estudo identificou um elo direto entre fiscalização ambiental e queda da violência. Com monitoramento em tempo real e aplicação rápida de multas ambientais, a presença do Estado aumenta, elevando custos para atividades ilegais e reduzindo o espaço de atuação de redes criminosas. O estudo mostra que cada multa aplicada reduz, no ano seguinte, 0,73 homicídio por 100 mil habitantes, e que municípios mais fiscalizados apresentam menor probabilidade de registrar violência letal.
Além disso, a pesquisa estima que os benefícios sociais da violência evitada chegam a 2,3 bilhões de dólares por ano, enquanto o custo operacional dos órgãos responsáveis pelo DETER gira em torno de US$ 622 milhões. O retorno social é de 3,7 vezes o investimento, sem contar ganhos ambientais, como redução de emissões de carbono e proteção da biodiversidade.
Para os autores, os resultados deixam claro que políticas ambientais eficazes devem ser tratadas também como políticas de segurança pública. Eles recomendam integrar ações de conservação e de combate ao crime, especialmente em territórios críticos onde desmatamento, mercados ilegais e violência avançam juntos. Isso inclui fortalecer operações coordenadas entre órgãos ambientais, forças policiais e estruturas locais de governança, priorizando regiões com maior incidência de conflitos e pressão de atividades ilegais.

