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Restauração de vegetação nativa dá salto de 158% no Brasil

Restauração de vegetação nativa dá salto de 158% no BrasilFoto: Redes Sementes do Cerrado

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O Brasil registrou um crescimento expressivo na recuperação de vegetação nativa, atingindo 204,2 mil hectares em processo de restauração, uma área equivalente a 285 mil campos de futebol. Os números, divulgados pelo Observatório da Restauração (OR) – uma das principais plataformas de dados do País, mantida pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura –, representam um aumento notável de 158% em relação a 2021 (quando foram mapeados 79 mil hectares) e 33% ante o ano passado. E isso atinge seus seis biomas — principalmente na Mata Atlântica e na Amazônia.

A restauração da vegetação nativa é fundamental para a saúde, segurança hídrica e desenvolvimento sustentável do País. Em sua contribuição ao Acordo de Paris, o Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares até 2030, meta reforçada em 2024 pelo Planaveg (Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa). Estima-se que esta atividade pode gerar mais de 2,5 milhões de empregos diretos.

“O Observatório é uma ferramenta essencial não somente pela contabilização de hectares em si, mas pela articulação e visibilidade aos atores que fazem a restauração acontecer”, explica Tainah Godoy,secretária-executiva do OR.

O OR se destaca pela articulação com coletivos que atuam nos seis biomas brasileiros e pela metodologia específica que mapeia apenas projetos autodeclaratórios com intervenção planejada (restauração ativa).

Isso o diferencia de outros indicadores, como os do MMA (Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima), que incluem extensas áreas de regeneração natural (vegetação que avança espontaneamente).

Segundo o OR, os biomas mais beneficiados com projetos de restauração são a Mata Atlântica (com 131,2 mil hectares mapeados, o equivalente a 64% da área total monitorada) e a Amazônia (39,7 mil hectares, ou 19%).

No Cerrado, foram identificados 31,7 mil hectares em restauração (15% do território mapeado). Na Caatinga foram compilados mil hectares (0,06%), enquanto o Pantanal soma 280 hectares (0,01%) e o Pampa, 260 hectares (0,01%).

A secretária-executiva do OR, Tainah Godoy, explica que a estruturação de redes multissetoriais consolidadas contribui para o engajamento e a formação de mão de obra, explicando o protagonismo de Mata Atlântica, Amazônia e Cerrado. Enquanto isso, biomas como Caatinga, Pantanal e Pampa iniciam a estruturação de seus próprios coletivos de restauração.

Cerrado: Restauração é arma contra a crise hídrica

O Cerrado também tem enfrentado uma crise de degradação, segundo a plataforma, sendo a restauração ecológica uma das estratégias mais eficazes para garantir a segurança hídrica da população local, a mitigação da crise climática e a manutenção dos modos de vida dos povos e comunidades tradicionais.

“O Cerrado enfrenta intensa pressão na mudança do uso do solo, resultando em perda significativa de biodiversidade”, explica Carol Sacramento, secretária executiva da Articulação pela Restauração do Cerrado (Araticum). “Nossos esforços buscam não apenas recuperar a vegetação nativa, mas também fortalecê-la. Queremos promover um olhar sobre o Cerrado que valorize as iniciativas de base comunitária e a diversidade de arranjos produtivos.”

Amazônia: ‘Arco pela restauração’

A Amazônia, segundo o OR, teve um avanço considerável de reporte de áreas em processo de restauração em relação aos dados de 2021, passando de 14,5 mil para 40 mil hectares, um aumento de 173% em quatro anos.

“Esse aumento pode ser atribuído a diversos fatores, destacando o papel de  políticas públicas e iniciativas privadas”, explica Tainah Godoy, secretária-executiva do OR. “Vemos, nos últimos anos, o aumento da oferta por editais voltados à restauração de ecossistemas, além de ações envolvendo organizações da sociedade civil e empresas. Houve ainda, no ano passado, o lançamento pelo governo federal da iniciativa Arco pela Restauração, que visa recuperar a região do Acordo do Desmatamento, onde ocorrem 75% da devastação da floresta.”

Pantanal: Incêndios impulsionaram urgência

O Pantanal foi o último bioma do País a ter um movimento expressivo pela restauração — justamente pelo fato de que, até a última década, era o que contava com os melhores índices de conservação de sua vegetação. Este cenário começou a mudar com as queimadas de 2020, que acometeram um terço do bioma. Em 2024, segundo pior ano da série histórica, o Pantanal registrou 14 mil focos de incêndio.

“A diminuição de aproximadamente 60% da superfície de água do Pantanal, um bioma que depende das águas do planalto da Bacia do Alto Paraguai, é um fato alarmante”, ressalta Solange Ikeda, coordenadora do Pacto pela Restauração do Pantanal. “Portanto, as iniciativas de restauração são soluções eficazes para recompor áreas degradadas, recuperar a vegetação nativa e restabelecer os ciclos de inundação que sustentam a biodiversidade e garantem a proteção das nascentes desse ecossistema.”