Por André Garcia
Marcado pela intensificação das queimadas, agosto terminou com o menor número de focos de calor já registrado no Brasil desde o início do monitoramento, há 27 anos. Foram 18.451 ocorrências — 61% a menos que a média histórica para o mês, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Só em Mato Grosso, os focos caíram 84%, passando de 14.617 em agosto de 2024 para 2.322 em agosto de 2025. Esses resultados refletem o primeiro ano de implementação da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (PNMIF), aliada a uma série de ações do governo federal integradas a estados e municípios.
Entre as medidas, destaca-se a destinação de R$ 1,5 bilhão em recursos extraordinários exclusivamente para prevenção e combate ao fogo.
“Além disso, houve uma série de medidas como a destinação de R$ 405 milhões do Fundo Amazônia para corpos de bombeiros em todos os estados amazônicos”, explicou o secretário extraordinário de Controle do Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial, André Lima, em entrevista à Voz do Brasil.
Pantanal quase zera ocorrências
Em 2024, o Brasil enfrentou recordes de queimadas impulsionados por uma seca prolongada e pela influência do El Niño, que intensificaram os incêndios no Pantanal. Neste ano, contudo, a temporada registra patamar historicamente baixo de queimadas, com redução de 98% em relação à média dos últimos oito anos.
Cerrado exige cautela
No Cerrado, a redução foi de 42,4% em relação à média dos últimos oito anos. Apesar do avanço, o bioma segue em estado de atenção por suas características naturais, que favorecem a propagação do fogo durante a estação seca.
“O dado de incêndio no Cerrado é um dado que sempre preocupa, porque, com as mudanças climáticas, a gente está tendo cada vez mais intensidade nos incêndios”, reforça o secretário extraordinário.
Amazônia reduz queimadas e desmatamento
Na Amazônia, a redução de 80% nos focos de calor está diretamente ligada ao combate ao desmatamento, que também desacelerou nos últimos três anos. Isso porque muitas queimadas são provocadas para limpar áreas recém-desmatadas, em um processo que transforma a derrubada da vegetação em pastagens ou lavouras.
“O problema foram os incêndios do ano passado, que comprometeram os dados deste ano, mas, em termos de corte raso, como a gente chama, houve uma queda de 8%, inclusive, no ano passado, o que dá quase 50% de redução dos desmatamentos na Amazônia, em comparação com a média, por exemplo, do governo anterior”, diz André.
Alerta deve ser mantido
Mesmo diante dos avanços, o cenário ainda é de alerta, já que a partir de agora as queimadas podem se intensificar. Para os próximos dias, a previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) indica calor extremo e baixa umidade do ar em Mato Grosso, variando entre 20% e 30% — cenário propício para a propagação das chamas.
Além disso, apesar do reforço na fiscalização, o uso irregular do fogo ainda faz parte da realidade de muitas regiões. Em Mato Grosso, por exemplo, 59% dos incêndios florestais registrados ocorreram após o início da proibição do uso do fogo, segundo levantamento do Instituto Centro de Vida (ICV).
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