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Águas de Bonito perdem transparência com desmatamento

Águas de Bonito perdem transparência com desmatamentoDesmatamento em Bonito deixa água de rios turva. Foto:Semagro

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Incêndio de grandes proporções atinge Bonito (MS)

As águas cristalinas de Bonito (MS), um dos principais destinos de ecoturismo do Brasil, estão perdendo sua transparência devido ao avanço do desmatamento na região. Entre 1985 e 2023, aproximadamente 90 mil hectares de vegetação nativa foram destruídos – o equivalente a cerca de 126 mil campos de futebol.

O desmatamento, impulsionado pela expansão a agricultura, tem afetado diretamente rios que são cartões-postais da cidade, como o Rio da Prata e o Rio Formoso. A retirada da vegetação nativa compromete a filtragem natural da água, elevando a quantidade de resíduos que escoam para os cursos d’água. O resultado é a perda da visibilidade embaixo da água, essencial para o turismo local, como flutuações e mergulhos, além de prejuízos à fauna aquática.

Segundo os dados, a maior parte dessa destruição ocorreu entre 2019 e 2023, com média anual de 1.400 hectares desmatados.

Danos às nascentes

A área de soja, por exemplo, na bacia hidrográfica do Rio Miranda – que abrange 94% do território de Bonito – passou de 16 mil hectares em 1985 para 80 mil em 2005. Em 2023, chegou a 300 mil hectares.

Uma das práticas mais nocivas no cultivo de soja é a abertura de drenos para secar áreas de nascentes. Isso altera o curso da água, provoca erosão e carrega sedimentos até os rios.

Em 2018, a abertura ilegal de 46 km de drenos às margens do Rio da Prata levou o Ministério Público a aplicar R$ 16,8 milhões em multas. No entanto, as punições foram suspensas pelo desembargador Alexandre Bastos, que também arquivou as ações. Ele foi afastado do cargo em 2024, por suspeita de venda de sentenças.

A proposta alternativa previa um custeio de R$ 3,2 milhões para a recuperação ambiental da área, com 56% pagos pelo poder público e 44% pelos fazendeiros – valor cinco vezes menor que as multas aplicadas.

O biólogo Guilherme Dalponti, da Fundação Neotrópica, relata que houve tentativas de criar unidades de conservação nas nascentes dos rios Formoso e da Prata, mas que foram barradas, inclusive com liminares judiciais.

As entidades alertam para a necessidade urgente de medidas de conservação e ressaltam que a preservação da vegetação nativa é essencial para garantir a qualidade da água e a sustentabilidade do ecoturismo na região — responsável por 60% do PIB de Bonito, segundo o IBGE.