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Amazônia e Cerrado concentram 86% da área queimada no Brasil

Amazônia e Cerrado concentram 86% da área queimada no BrasilFogo avançou sobre áreas de vegetação nativa. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

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Por André Garcia

O Cerrado e a Amazônia responderam juntos por 177 milhões de hectares queimados pelo menos uma vez nos últimos 40 anos, uma área semelhante à do México. O acumulado equivale a 86% de toda a área atingida pelo fogo no Brasil, conforme Relatório Anual do Fogo (RAF), lançado nesta terça-feira, 24/6, pelo MapBiomas.

Embora a área queimada nos dois biomas seja semelhante, há uma grande diferença em termos proporcionais, uma vez que a área total da Amazônia é quase o dobro do Cerrado: 21% contra 45%. As porcentagens equivalem a 87 milhões de hectares e 89 milhões de hectares respectivamente.

Crédito: MapBiomas

Na Amazônia, 2024 foi um ano recorde em extensão de área queimada, com 15 milhões de hectares atingidos, um aumento de 85% em relação a 2023.  Já no Cerrado, o aumento foi de 75% em comparação ao ano anterior, com 10,5 milhões de hectares queimados no ano passado.

“Historicamente, o Cerrado evoluiu com a presença de fogo natural, geralmente provocado por raios durante o início da estação chuvosa. No entanto, o que temos observado é um aumento expressivo dos incêndios no período de seca, impulsionado principalmente por atividades humanas e agravado pelas mudanças climáticas”, explica Vera Arruda, pesquisadora do IPAM e coordenadora técnica do MapBiomas Fogo.

Vegetação nativa em chamas

Nos últimos 40 anos, 69,5% das queimadas no Brasil ocorreram em áreas de vegetação nativa, enquanto os demais 30,5% atingiram áreas antrópicas (regiões ou ambientes que foram modificados, alterados ou criados pela ação humana), como pastagens e lavouras. Em biomas como Caatinga, Cerrado, Pampa e Pantanal, cerca de 80% da área queimada corresponde a ecossistemas nativos.

Crédito: MapBiomas

Entre os tipos de cobertura mais afetados, destacam-se as formações savânicas, típicas do Cerrado, que foram as áreas naturais mais queimadas nas últimas décadas. Assim, embora o bioma tenha evoluído com a presença de fogo, enfrenta desafios devido à intensificação dos incêndios nos últimos anos.

Essa mudança preocupa porque, ao contrário das formações savânicas, as florestas não têm adaptações naturais para resistir ao fogo. Quando atingidas, as perdas de biodiversidade são maiores, o solo fica mais vulnerável à erosão e a capacidade de regeneração natural é muito mais lenta.

Além disso, aumentam a emissão de gases de efeito estufa, agravando o aquecimento global. Neste contexto, Vera ressalta que o aumento da frequência e intensidade dos incêndios, impulsionado por práticas inadequadas e mudanças climáticas, têm impactado a capacidade de regeneração natural do bioma.

“Em 2024, 86% da área queimada no Cerrado foi em vegetação nativa, tornando urgente a implementação de ações de adaptação climática e políticas públicas, como o MIF [Manejo Integrado do Fogo], para mitigar os danos e restaurar a resiliência do Cerrado, protegendo tanto o meio ambiente quanto as comunidades que nele vivem”, pontua.

 

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