As emissões brutas de gases de efeito estufa (GEE) do Brasil caíram 16,7% em 2024, atingindo 2,145 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente (GtCO2e). Esta é a segunda maior redução já registrada desde 1990, sendo reflexo direto da retomada do controle do desmatamento na Amazônia e no Cerrado.
Os dados são da 13ª edição do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de GEE), do Observatório do Clima (OC), lançados nesta segunda-feira.
O impacto da queda do desmate foi tão significativo que alterou a matriz de emissões líquidas do país.
Descontadas as remoções por áreas protegidas e florestas secundárias, as emissões líquidas por mudança de uso da terra tiveram uma queda brutal: 64%, a maior redução da história. Elas caíram de 685 milhões para 249 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2024, em relação a 2023.
Por conta dessa redução, o setor de mudança de uso da terra deixou de ser a principal fonte de emissões líquidas do Brasil, caindo de 35% para 17% do total. Agropecuária (de 33% para 42%) se torna a maior. Energia sobe de 22% para 29%, e processos industriais e resíduos sobem ambos de 5% para 6%.
Pecuária e agropecuária: o desafio estrutural
O setor agropecuário se mantém como o grande desafio estrutural para a mitigação:
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- Principal Atividade Emissora: A pecuária é a atividade econômica mais emissora do Brasil, sendo responsável por 51% das emissões totais, ou 1,1 GtCO2e. Se fosse um país, o boi brasileiro seria o sétimo maior emissor do mundo.
 - Emissões Diretas: A principal fonte emissora do setor é a fermentação entérica (o “arroto” do boi, que emite metano), que responde por 65% do total da agropecuária (404 MtCO2e).
 - Estabilidade: As emissões brutas da agropecuária ficaram estáveis em 2024 (queda discreta de 0,7%). No total, a agropecuária, junto com o desmatamento, responde por dois terços das emissões do Brasil.
 
 
Queimadas
Um ponto de preocupação destacado pela equipe do SEEG é o fato de as emissões por desmatamento terem caído no mesmo ano em que o Brasil registrou a maior área queimada de sua história, devido à estiagem severa que atingiu o Norte, o Centro-Oeste e o Sudeste.
“Estamos vendo um descolamento entre esses dois processos que normalmente andam juntos, o fogo e o desmatamento,” afirmou Bárbara Zimbres, pesquisadora do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), responsável pelos cálculos do setor de uso da terra. “Isso é um sinal de que a mudança do clima já pode estar interferindo perigosamente nas florestas.”
Usando dados do MapBiomas, os pesquisadores estimaram as emissões por queimadas não relacionadas ao desmatamento. Em 2024, pela primeira vez, essas emissões não contabilizadas no inventário (241 MtCO2e) são basicamente equivalentes a todas as emissões líquidas por mudança de uso da terra (249 MtCO2e).
O cálculo indica que o fogo duplicaria as emissões líquidas por desmatamento do país em 2024 se fosse contabilizado, sinalizando o risco crescente da crise climática mesmo com a redução da devastação.
Meta de 2025 comprometida
O SEEG alerta que, apesar da redução geral, o Brasil deve falhar no cumprimento de sua meta climática (NDC) de 2025. A projeção indica que o País deve encerrar o ano com 1,44 GtCO2e líquidas, um valor 9% superior à meta de 1,32 bilhão de toneladas líquidas.
“O desmatamento cai, mas todos os outros setores sobem,” afirma David Tsai, coordenador do SEEG. “Toda a mitigação fica nas costas do combate ao desmatamento, e isso precisa mudar.”
A capacidade de atingir as metas depende de cortes substanciais nos setores de energia e agropecuária e da não concretização de projetos de alto impacto (como a BR-319 e a expansão fóssil) que ameaçam reverter os ganhos obtidos na proteção da floresta.

			