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Desmatamento zero e agricultura de baixo carbono devem ser prioridades para o Brasil

Desmatamento zero e agricultura de baixo carbono devem ser prioridades para o BrasilBrasil tem uma chance de reduzir as emissões muito mais simples. Foto: Mapa

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O Brasil está se distanciando das metas de redução de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), estabelecidas na NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada, traduzida para o português), em 2015. Mas é possível reverter esse quadro com o fim do desmatamento e aplicação de técnicas de agricultura de baixo carbono.

A afirmação é de Tasso Azevedo, coordenador técnico do Observatório do Clima e Coordenador Geral do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), durante painel sobre o tema na COP27, promovido pela Brazil Climate Action Hub.

Iniciativa do Observatório do Clima criada em 201, o SEEG reúne a produção de estimativas anuais das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil há dez anos.

Segundo Azevedo, a NDC, criada em 2015 durante a COP21, em Paris, estabelecia como meta brasileira reduzir 37% de emissões líquidas até 2025 e 50% até em 2030. A referência era o ano de 2005, quando o País emitia 2.4 giga toneladas. Isso daria um compromisso de 1.6 giga toneladas em 2025 e 1.2 giga toneladas em 2030.

“Se a gente olhar, em 2005, o Brasil emitia 2.4 giga toneladas de emissões, e em 2015, quando foi feita a NDC, a gente estava em 1.4 giga toneladas. Hoje, temos 1.7 giga toneladas. Ou seja, neste momento o Brasil se distancia da meta de 2025 em vez de estar se aproximando. Para a meta de 2030, a gente está ainda mais distante”, disse

Hoje, o Brasil é o quinto maior emissor de GEE do mundo, atrás da China (23,7% do total), Estados Unidos (12,9%), Índia (6,5%) e Rússia (4,2%).

“As emissões líquidas (descontando as remoções) per capita no País é de 8 ton/habitante. É mais que a média global, que é 6, 7 giga toneladas. ou seja, o Brasil piora a média mundial. Somos similar à China, metade dos EUA, e o dobro da India”, afirma Tasso.

No ano passado, o país emitiu 2,42 bilhões de toneladas brutas de CO2 equivalente, um aumento de 12,2% em relação a 2020, quando se registrou 2,16 bilhões.  Com isso, as emissões no Brasil, em 2021, tiveram sua maior alta em 19 anos no Brasil.

Dessas, a maior parte vem de uso da terra, ou seja, desmatamento (95%), seguida de agropecuária (75%)

De acordo com o coordenador Geral do SEEG, o Brasil precisa fazer um esforço importante para chegar à meta. Mas ele é otimista.

“É possível chegar à meta? Sim, é possível. A chave para gente chegar lá é o que a gente faz com o uso da terra. Se a gente reduzir o desmatamento e aplicar técnica de agricultura de baixo carbono, a gente certamente pode chegar à meta e talvez até menos. Temos estudo que apontam que a gente pode chegar a 1 bilhão de toneladas em emissões líquidas em 2030”

Metano

Marina Piatto, diretora executiva do Imaflora. também presente no painel, tem a mesma percepção em relação à redução de emissão de metano pela agropecuária brasileira.

“71% de todo metano emitido no Brasil vem da agricultura, então, se a gente ataca o metano e o desmatamento, a gente já resolve muito do nosso problema. Acabar com o desmatamento reduziria 50% das emissões brasileiras, e se eliminar o metano, são outros 25% a menos. O Brasil tem uma chance de reduzir as emissões muito mais simples, que passa por zerar o desmatamento e aprimorar o manejo do gado, com melhoria da digestibilidade animal, por exemplo, para diminuir a fermentação [que resulta no arroto do boi]. O desafio do agro é o investimento para essa transição tecnológica descarbonizada”, explicou Piarro

Para ela, no entanto, a redução das emissões na agropecuária precisa de investimentos financeiros com foco na ampliação do Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), indicou

De acordo com Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM e coordenadora do MapBiomas Fogo,  a maneira mais barata e eficiente de reduzir as emissões no Brasil é olhar para nossa realidade

“A Amazônia representa 77% das emissões brasileiras por mudanças de uso da terra, sendo que 91% dessas emissões está diretamente associado à conversão da floresta para a agropecuária, e têm como principal frente de expansão a ocupação de terras públicas por meio da grilagem”, diz Ane, durante o painel.