HomeEcologia

Zona de transição Amazônia-Cerrado é vital para o nosso futuro

Zona de transição Amazônia-Cerrado é vital para o nosso futuroLeonardo Maracahipes-Santos, pesquisador do IPAM. (Foto:Woodwell Climate)

Ex-ministros da Fazenda afirmam: quem destrói precisa pagar por crimes ambientais
Degragação na Amazônia atinge 2.846 km² e é a maior em 15 anos
Estoque de CO2 no Cerrado começa a chamar atenção do mercado internacional

As zonas de transição entre a Amazônia e o Cerrado – que reúnem características de dois biomas – estão diretamente ligadas ao nosso futuro. “Protegê-la, portanto, é proteger a própria capacidade dessas áreas de resistirem às mudanças que estão em curso”. A afirmação é de Leonardo Maracahipes-Santos, pesquisador do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Ele atua na região desde 2008 e defende políticas específicas para preservar esse ecossistema único, que cumpre papel essencial para a biodiversidade, o equilíbrio climático e a sobrevivência de espécies.

Segundo Maracahipes-Santos, que atualmente coordena a Estação de Pequisa Tanguro (MT), essas zonas combinam características de ambos os biomas, resultando em grande diversidade biológica. Essa configuração cria condições únicas de clima e solo que sustentam espécies específicas, principalmente de fauna.

De acordo com  pesquisador, no Cerrado, o fogo é presença marcante, enquanto nas áreas de floresta da transição ele está ausente, formando um mosaico de ecossistemas de grande importância ecológica, onde é possível estudar a coexistência de biodiversidade e o estoque de carbono.

Para ele, essas zonas também cumprem um papel essencial na “conectividade das paisagens”, permitindo a movimentação da fauna e o fluxo gênico – troca de características genéticas entre indivíduos da mesma espécie.

“Sem troca gênica dentro das populações, a espécie caminha para a extinção”, adverte Maracahipes-Santos. Além disso, contribuem para a regulação climática local, regional e global, influenciando temperatura e regime de chuvas.

O pesquisador afirma que não existem políticas específicas para proteger a zona de transição e é  preciso investir na implementação e na fiscalização do Código Florestal na região, principalmente na validação do CAR (Cadastro Ambiental Rural).

A falta de proteção adequada, alerta ele, aumenta o risco de extinção de espécies raras e endêmicas, algumas possivelmente já desaparecidas sem registro científico. Entre os impactos já observados da perda de vegetação nativa, Maracahipes-Santos cita o desaparecimento de nascentes.

“Aqui na Estação de Pesquisa Tanguro existem alguns córregos que não secavam até 2019, eram contínuos, agora não são mais e estão secando todo ano”, relata.

O pesquisador destaca ainda que a região é um verdadeiro laboratório natural para compreender as respostas da vegetação e os efeitos das mudanças climáticas, principalmente diante do aumento da frequência de eventos extremos, como secas mais intensas e alterações no regime de chuvas.

Maracahipes-Santos sugere que editais de pesquisa considerem essas áreas de forma específica.

“Algumas chamadas focam num bioma em específico, mas isso poderia ser feito para as zonas de transições também”.

Para o pesquisador, criar linhas de financiamento voltadas a esses ecossistemas é um passo importante para ampliar o conhecimento e a proteção de áreas ainda pouco estudadas e preservadas.

LEIA MAIS:

Mudanças climáticas ameaçam biodiversidade de forma irreversível

Fogo recua 16% no País em julho, mas Cerrado segue sob pressão

Qual é o impacto da crise climática no Cerrado?