Por André Garcia
Os produtores de soja dos Estados Unidos são os maiores perdedores da guerra comercial iniciada por seu presidente, Donald Trump, contra a China, aponta a revista britânica The Economist. Neste cenário, o grande vencedor foi o Brasil, que consolidou sua posição como superpotência mundial da soja.
De acordo com a publicação, o embate vem arruinando agricultores em Illinois; Trump deve anunciar um pacote de ajuda agrícola de US$ 10 bilhões. A disputa também está elevando os custos para as indústrias de processamento na província chinesa de Shandong, que transformam grãos em ração animal e óleo de cozinha.
Não é a primeira vez que o Brasil se beneficia de um conflito comercial provocado por Trump. O mesmo aconteceu quando ele aumentou as tarifas sobre a China em seu primeiro mandato. A parcela do vasto mercado chinês de soja abastecida pelo Brasil saltou de cerca de metade, em 2017, para três quartos, em 2018.
Como já mostramos, somente nos primeiros nove meses do ano, a China importou 86,18 milhões de toneladas de soja, superando em 5,5% o nível do mesmo período do ano passado. Desse total, a participação dos embarques do Brasil ficou entre 85% e 89%, segundo levantamento do Commerzbank.
“O embargo da China à soja americana criou um mercado favorável aos vendedores na América do Sul. O que seria um excesso de oferta devido a uma safra abundante transformou-se em estoque valorizado”, cita a The Economist.
Além disso, as exportações brasileiras de soja devem atingir 110 milhões de toneladas em 2025, o que, segundo o governo brasileiro, compensa as exportações perdidas devido à tarifa de 50% imposta por Trump a produtos brasileiros, como carne bovina e café.
Cenário favorável
A sorte do Brasil pode diminuir no fim de outubro, quando Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, devem se encontrar para debater a questão. Contudo, ainda que o embargo seja suspenso, os americanos provavelmente ainda terão de pagar uma tarifa alta: atualmente, eles enfrentam taxa de 23%, contra 3% para os brasileiros.
Um acordo que reduza parcialmente a tarifa chinesa diminuiria a vantagem do Brasil — pelo menos até que os preços americanos voltassem a subir.
Mas os agricultores brasileiros parecem despreocupados. O calendário de plantio no Brasil joga a seu favor, e os silos americanos estão cheios, especialmente após uma safra recorde de milho. Já a gigantesca safra brasileira, atualmente em plantio, só será colhida em janeiro, quando a safra americana já tiver sido escoada.
Vantagem brasileira
Os choques provocados por Trump não são a única razão para o sucesso da soja brasileira, observa Daniel Furlan Amaral, da Abiove, entidade que representa tradings do setor. A soja brasileira tem teor proteico mais alto do que a americana. Seu setor agrícola é mais produtivo. Com 49 milhões de hectares, também é muito maior.
Diferentemente do Meio-Oeste americano, o interior do Brasil ainda oferece amplo espaço para expansão. E, como o país precisa de grandes quantidades de óleo de soja para a indústria de biocombustíveis, há também bastante demanda interna pelo grão.
As grandes ferrovias e portos dos Estados Unidos são sua única vantagem restante, mas, na avaliação da revista, o boom de infraestrutura que ocorre no Brasil pode, eventualmente, eliminar até isso.
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