O governo brasileiro está em negociações intensas com representantes de comércio dos Estados Unidos para tentar excluir alguns itens do tarifaço de 50% que Donald Trump pretende impor a partir de 1º de agosto. Caso a prorrogação para todos os produtos não seja possível, a prioridade do Brasil é isentar suco de laranja, café e aviões da Embraer.
Nesta terça-feira, Howard Lutnick, secretário do Comércio dos Estados Unidos, indicou à CNBC que o país avalia isentar tarifas para alimentos e recursos naturais não produzidos em território norte-americano, citando café e cacau, sem fazer menção específica ao Brasil. As informações são de O Globo.
Impacto e argumentos por setor
Suco de Laranja: O setor de suco de laranja seria um dos mais prejudicados, com prejuízo estimado em R$ 4,3 bilhões se a tarifa for aplicada. O Brasil é o maior produtor e exportador mundial, vendendo 95% de sua produção para o exterior, sendo 42% destinada aos EUA. A nova tarifa elevaria os impostos pagos em cerca de 456%. A dependência americana do suco brasileiro é alta devido à doença greening, que devastou a produção de laranjas na Flórida, reduzindo-a em 90%. O Brasil argumenta que taxar o suco brasileiro encareceria o produto para o consumidor americano, que já paga uma tarifa fixa de US$ 415 por tonelada.
Café: O Brasil é o principal fornecedor de café para os EUA, que compraram 17% de todo o café brasileiro exportado entre janeiro e maio deste ano. Uma tarifa de 50% tornaria o café brasileiro mais caro e difícil de ser totalmente substituído por outros países, o que também impactaria os consumidores americanos.
Embraer: O governo também busca a isenção para os aviões da Embraer. Francisco Gomes Neto, presidente da empresa, está nos EUA para reforçar que a sobretaxa traria perdas também para o país. A Embraer possui uma unidade nos EUA com 3 mil funcionários e US$ 3 bilhões em ativos. Além disso, a empresa tem um potencial de compra de US$ 21 bilhões em equipamentos de fornecedores americanos até 2030 para compor aviões exportados globalmente. Os EUA representam 45% do mercado de jatos comerciais e 70% dos jatos executivos da Embraer. A empresa estima um custo adicional de R$ 20 bilhões até 2030, caso as tarifas sejam implementadas, com um gasto de R$ 50 milhões a mais por avião, o que reduziria sua competitividade. A Embraer já vinha negociando a redução de uma tarifa mínima de 10% imposta anteriormente.
O Brasil tenta, portanto, demonstrar que as tarifas impactarão não apenas a economia brasileira, mas também setores e consumidores americanos, buscando uma solução negociada antes do dia 1º de agosto.
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