Por André Garcia
Com produção de biomassa até 30% superior às demais cultivares, o capim-elefante BRS Capiaçu, desenvolvido pela Embrapa, começa a ganhar espaço além da pecuária. O material vem sendo testado para geração de energia renovável, com destaque para o uso em altos-fornos da indústria cimenteira e na produção de biogás, biometano e etanol de segunda geração.
A possibilidade de uso do Capiaçu em sistemas de bioenergia também abre espaço para sua adoção em regiões como o Centro-Oeste, onde a integração com a suinocultura, a busca por fontes renováveis e a intensificação das secas fazem a alternativa especialmente estratégica.
A cultivar, que já se destaca por reduzir em até três vezes o custo da silagem em comparação ao milho, agora também apresenta viabilidade econômica para substituir combustíveis fósseis como o coque de petróleo. A mudança de uso abre nova frente de lucro para o agronegócio, com retorno potencial em diferentes cadeias produtivas.
A Embrapa e a empresa Ciplan/AS desenvolveram um protótipo teórico para avaliar o desempenho do capim nos altos-fornos da indústria cimenteira. Os resultados são animadores. Segundo o pesquisador Juarez Campolina Machado, da Embrapa Gado de Leite, a biomassa do Capiaçu demonstrou eficiência energética e custo competitivo.
“A exigência premente de produção de energia renovável abriu uma nova oportunidade para a BRS Capiaçu. O poder calorífico da biomassa do capim em altos-fornos tem se mostrado mais competitivo do que outras fontes como o coque de petróleo, que é um combustível fóssil”, explica.
Na pecuária, ela segue valorizada por seu desempenho nutricional e custo reduzido. Lançada há uma década, ela chamou atenção pelo porte elevado e alta produtividade, alcançando mais de quatro metros de altura e até 280 toneladas por hectare ao ano.
Produtividade e nutrição seguem como destaque na pecuária
O produtor Victor Ventura, de Santo Antônio do Aventureiro (MG), adotou o Capiaçu como base da alimentação de um rebanho de 300 vacas leiteiras. Com 30 hectares plantados, ele afirma ter reduzido custos e melhorado a estabilidade alimentar.
“A BRS Capiaçu representou um divisor de águas, trazendo maior segurança alimentar para o meu rebanho.”
Segundo o pesquisador Mirton Morenz, da Embrapa, o valor nutritivo também é um diferencial. O teor de proteína bruta varia conforme o corte, com destaque para o uso em alimentação verde.“Quando cortado aos cinquenta dias, o capim chega a ter 10% de proteína bruta, índice superior ao da silagem de milho, com cerca de 7%.”
A Embrapa orienta que a silagem da cultivar é indicada para vacas secas e animais jovens. Para vacas em lactação, é necessário suplementar a alimentação com fontes energéticas, o que ainda mantém a viabilidade econômica, dada a redução de custos com volumoso.
Resultado de 15 anos de pesquisa, a BRS Capiaçu é hoje cultivada em todo o país. Com múltiplas aplicações, baixo custo e forte adaptação ao clima tropical, a gramínea se consolida como alternativa de destaque na transição para um agronegócio mais sustentável e rentável.
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