Por André Garcia
Quem cuida melhor do solo corre menos risco de perder a produção por seca. E, pela primeira vez, o seguro rural brasileiro passa a reconhecer isso no cálculo da subvenção. O Ministério da Agricultura (Mapa) e a Embrapa estão testando o Zarc por Níveis de Manejo, modelo que premia boas práticas com até 35% de desconto no seguro.
O novo formato surge em meio a um cenário de perdas crescentes. Entre 2022 e 2024, eventos climáticos causaram R$ 90 bilhões em prejuízos no Brasil ao agronegócio. Ainda assim, menos de 5% da área plantada do País é protegida, o que se explica, entre outros fatores, pelos custos elevados do seguro.
Embora a proposta esteja em fase piloto, abrangendo apenas a cultura da soja no estado do Paraná, a tendência é que ela se torne permanente. Segundo o Ministério, após a avaliação dos resultados da primeira etapa, o programa deverá ser ampliado para outros estados, começando pela soja e, depois, incluindo o milho.
“Importante diferenciar os produtores que investem no manejo sustentável do solo. É um reconhecimento que serve de incentivo para outros”, ressalta o produtor José Rogério Volpato, que, graças à integração lavoura-pecuária (ILP) e ao consórcio milho e braquiária, obteve desconto de 30%.
Como funciona
Volpato integra o grupo de produtores das 29 áreas que participam do piloto, totalizando 2.400 hectares. Os dados enviados por eles às seguradoras são processados pelo Sistema de Informações de Níveis de Manejo (SINM), da Embrapa, que cruza as informações com sensoriamento remoto para definir o nível de manejo.
Na prática, a metodologia desenvolvida pela Embrapa dá uma nota de 1 a 4 para o manejo do solo. Juntamente com as avaliações de risco climático do ZarcNM, o produtor então verifica o quanto a adoção de boas práticas pode reduzir os riscos potenciais de perdas da produção por seca.
Da área total participante do projeto-piloto, cerca de 5% foram classificadas com o nível quatro, garantindo subvenção de 35%. Outros 27% alcançaram NM3, que representa 30%, a maioria, 57%, foi classificada no nível 2 e recebeu 25%, enquanto 11% ficaram no nível um, mantendo os 20% padrão.
Neste modelo são considerados seis indicadores: tempo sem revolvimento do solo, porcentagem de cobertura do solo em pré-semeadura (palhada), diversificação de cultura nos três últimos anos agrícolas, percentual de saturação por bases, teor de cálcio e percentual de saturação por alumínio.
Reduzindo riscos
Práticas que elevam a disponibilidade de água no solo ajudam a reduzir perdas por seca, algo cada vez mais necessário diante da intensificação dos extremos climáticos. Entre 2003 e 2023, o número desses eventos no Brasil aumentou 960%, conforme levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Segundo o pesquisador José Renato Bouças Farias, da Embrapa Soja, quanto melhor o nível de manejo adotado, menor será o risco de perdas por déficit hídrico. Deste modo, o cuidado com a terra é determinante para aumentar a infiltração de água e reduzir o escorrimento superficial, comuns durante chuvas intensas e em grandes volumes.
“O aprimoramento do manejo do solo leva a um aumento na produtividade das culturas, à redução do risco de perdas causadas por condições de seca e ao aumento da fixação de carbono no solo. Além disso, promove a conservação tanto do solo quanto dos recursos hídricos”, pontua.
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