Por André Garcia
Resíduos da criação de tilápia e extratos de algas marinhas estão ganhando uma nova função nas lavouras: alimentar o solo com mais eficiência e menos química. Com o uso da nanotecnologia, esses insumos naturais estão sendo transformados em fertilizantes de alto desempenho, voltados para a produtividade e a sustentabilidade no agro.
A tecnologia está sendo desenvolvida em parceria entre a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e a empresa Ambios, com apoio da Rede MT-NanoAgro e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável (INCT NanoAgro).
“Nosso foco é desenvolver nanopartículas de carbono e de micronutrientes a partir de fontes renováveis, oferecendo alternativas viáveis aos insumos convencionais e ampliando a sustentabilidade nos sistemas de produção agrícola”, explica o professor Ailton J. Terezo, do Instituto de Química (IQ), responsável pelo projeto.
Os novos produtos ajudarão a enfrentar desafios como a perda de fertilidade do solo e os efeitos das mudanças climáticas, com menor custo e maior eficiência por hectare. Segundo a Universidade, as soluções nanotecnológicas demandam doses menores, têm maior aproveitamento pelas plantas e podem trazer ganhos diretos em lucratividade.
“Essa parceria marca um novo capítulo para a agricultura. As soluções nanotecnológicas que estamos desenvolvendo exigem doses menores, oferecem maior eficiência e contribuem diretamente para a lucratividade e a redução de custos no campo”, afirma Nilton Ribeiro, químico e gestor da unidade de produção da Ambios.
A UFMT ficará responsável pelo desenvolvimento em laboratório, enquanto a Ambios fará os testes de campo e deverá escalar a produção. Os primeiros resultados estão previstos para daqui um ano. “Esse curto prazo demonstra a agilidade da pesquisa e o potencial de impacto no mercado”, acrescenta Ribeiro.
Mercado em crescimento
A nanotecnologia aplicada à agricultura vem ganhando espaço no mundo todo. Um levantamento da Data Bridge Market Research aponta que o setor movimentou US$ 398,5 bilhões em 2024 e deve alcançar US$ 965,8 bilhões até 2032. Já a consultoria InsightAce Analytic projeta um mercado ainda maior: US$ 1,42 trilhão até 2034.
Diante disso, o professor Ailton ressalta o papel do projeto em um setor estratégico para o futuro do agro. “O projeto oferecerá oportunidades para que estudantes se integrem a pesquisas de ponta, fortalecendo a formação de novos talentos em nanotecnologia aplicada ao agro, uma área estratégica e em crescimento acelerado.”
Solo vivo, planta forte
Nanotecnologia diz respeito ao estudo e aplicação de materiais em escala nanométrica, ou seja, na faixa de 1 a 100 nanômetros, equivalente a um bilionésimo de metro. No campo, essa escala, até mil vezes menor que a espessura de um fio de cabelo, permite criar insumos com maior precisão e eficiência.
Isso porque as partículas “nano” conseguem ser absorvidas mais facilmente pelas plantas, atuam de forma mais direcionada e reduzem perdas no solo ou na água, o que significa menos desperdício, menor impacto ambiental e mais resultado por hectare.
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