André Garcia
A quebra de hastes da soja observada nas últimas safras em lavouras de Mato Grosso e do Paraná não está ligada a doenças, mas sim a condições climáticas. O fenômeno, que afeta a base das hastes e pode comprometer o enchimento dos grãos, exige atenção dos produtores para práticas de manejo que reduzam o impacto nas lavouras.
Estudos da Embrapa Soja apontam que o problema ocorre, principalmente, quando há excesso de chuvas na fase vegetativa seguido por altas temperaturas no início da fase reprodutiva. A conclusão veio após análises de campo e de laboratório, que identificaram padrões incompatíveis com doenças.
“Foram observadas condições de ambiente comuns em alguns locais de ocorrência da quebra de hastes como maior frequência de chuvas na fase vegetativa da cultura, seguido por períodos de elevadas temperaturas no início da fase reprodutiva”, explica o pesquisador Maurício Meyer.
De acordo com ele, análises de metagenômica, observações por microscopia e o padrão de ocorrência no campo indicaram ausência de patógenos, levando à conclusão de que a quebra das hastes não é causada por fungos ou bactérias.
“Essa condição de causa abiótica foi assumida pela Embrapa por um conjunto de resultados de estudos, como resultados negativos nas tentativas de reprodução dos sintomas pela inoculação de microrganismos isolados de plantas com quebra de hastes”, acrescentou.
Manejo para reduzir impacto
Para minimizar os efeitos do problema, o pesquisador recomenda adotar estratégias que ajudem a reduzir o estresse climático, como a cobertura uniforme do solo com palhada de gramíneas, escolher cultivares menos sensíveis, preparar o solo para favorecer o desenvolvimento radicular e garantir boa drenagem.
Outra boa aliada do produtor é a adubação verde. Como já mostramos, a técnica vem ganhando espaço em propriedades de Mato Grosso principalmente por ajudar a melhorar a estrutura da terra, aumentar a retenção de umidade e reduzir o estresse da soja em períodos de calor e seca.
Estudos preliminares indicam que há variação na sensibilidade das cultivares à quebra de hastes. No entanto, Meyer ressalta que ainda são necessários mais estudos para caracterizar quais variedades são mais resistentes a esse tipo de dano causado por estresse climático.
Histórico da quebra de haste
O quebramento de haste da soja tem sido observado no médio-norte de Mato Grosso desde a safra 2020/2021 e, mais recentemente, também em lavouras do Paraná e de Santa Catarina, na safra de 2023/2024. O fenômeno geralmente começa no período de pré-fechamento das entrelinhas e fica visível apenas a partir do enchimento de grãos.
A fragilidade acontece bem na base do caule, logo acima do ponto onde a planta germinou, o que facilita a quebra com o vento. Mesmo que continuem vivas, essas plantas ficam tombadas, atrapalham a colheita e, em anos mais secos e quentes, acabam secando antes da hora, com vagens vazias ou mal formadas.
Segundo nota técnica da Embrapa, nas regiões onde ocorre a quebra, é comum observar “estrias necróticas” na parte periférica do lenho das hastes. Essas marcas escuras também podem estar presentes em partes superiores da planta e até mesmo em plantas que não sofreram quebramento.
LEIA MAIS:
Qual é o impacto da crise climática no Cerrado?
Com diretrizes próprias, agro é peça-chave no Plano Clima
Tecnologias poupa-terra são trunfo do agro contra crise climática
Agricultura será a mais impactada pelo clima, diz estudo
Adubação verde é arma contra seca
Quer calcular o risco climático de sua propriedade? Veja como
Clima exige nova revolução no agro, alerta Embrapa
Produtor de soja terá seguro maior com solo bem manejado
Avanço de pragas ameaça lavouras de soja em Mato Grosso
Crise climática ameaça abelhas e produção de soja por tabela
Produção de soja perde eficiência com uso cada vez maior de insumos