Robôs movidos a energia solar que monitoram lavouras, bioinsumos que melhoram o solo sem agredir o meio ambiente e plataformas que antecipam eventos climáticos extremos reforçam o papel do Brasil não só como protagonista na produção global de alimentos, mas também como como aliado no combate à crise climática.
Não à toa, o País vem se consolidando como polo de inovação impulsionado pelas agtechs, startups que desenvolvem soluções para o campo com uso de softwares, biotecnologia, inteligência artificial, automação e robótica. É o que mostra publicação do portal ECOA.
Segundo o Radar Agtech Brasil 2024, elaborado por Embrapa, Homo Ludens e SP Ventures, o País conta hoje com 1.972 agtechs. Em 2019, eram 1.125 — crescimento de 75% em cinco anos. Embora ainda se concentrem no interior de São Paulo, a tendência é que elas se espalhem por outras regiões.
Robô solar que reduz herbicidas
Em Araçatuba (SP), a Solinftec desenvolve robôs autônomos para monitoramento planta a planta e aplicação precisa de insumos. O modelo Solix já reduziu em até 90% o uso de herbicidas em soja, milho e cana. Movido 100% a energia solar, ele também diminui o consumo de água e energia elétrica, além de proteger organismos benéficos à lavoura.
“Com menos aplicação de químicos, conseguimos preservar a fertilidade do solo e reduzir o risco de contaminação de rios e nascentes”, afirma Bruno Pavão, chefe de operações de robótica da empresa.
Genômica para cultivos mais resilientes
Fundada em 2022, a InEdita Bio desenvolve plataformas próprias de edição genômica para reduzir o uso de defensivos químicos e aumentar a resistência das plantas a pragas e eventos climáticos extremos. Os cultivares editados têm tolerância à seca e ao calor, com aprimoramento do sistema radicular e interação com microrganismos benéficos.
“Apesar do uso massivo de pesticidas, estima-se que doenças e pragas causem perdas de 20% da produção global. Com secas e altas temperaturas, o problema se agrava, e é preciso buscar soluções mais duradouras”, diz Paulo Arruda, CEO da startup.
Bioinsumos para recuperar o solo
A Symbiomics, criada em 2021, aposta em consórcios microbianos — combinações de microrganismos que atuam em sinergia para nutrir plantas, controlar pragas e regenerar o solo. Inteligência artificial e machine learning ajudam a selecionar as combinações mais eficientes para diferentes condições agrícolas.
“Em solos degradados, os bioinsumos podem restabelecer funções ecológicas essenciais, criando um ambiente mais propício ao desenvolvimento de comunidades microbianas benéficas e à produtividade”, explica Jader Armanhi, cofundador da empresa.
Inteligência para prever eventos extremos
Criada em 2014, a Agrosmart combina sensores, imagens de satélite e dados climáticos hiperlocais para orientar decisões de irrigação, plantio, colheita e uso de defensivos.
“Começamos com a missão de empoderar o produtor com informações em tempo real para produzir de forma mais eficiente, sustentável e resiliente”, afirma Mariana Vasconcelos, fundadora da empresa. A tecnologia reduz consumo de água, energia e insumos, além de antecipar riscos de safra, minimizando prejuízos.
Principais desafios
Quase 70% das propriedades rurais brasileiras não têm conectividade, segundo o Ministério da Agricultura e a Associação ConectarAGRO, fator que limita o uso de máquinas modernas e plataformas digitais. Outro obstáculo é a resistência de parte dos agricultores, especialmente os pequenos, que enfrentam mais barreiras nesta transição.
“Programas como os do Sebrae buscam incluir esse público com soluções acessíveis e capacitação. A tendência é de integração crescente entre o agro tradicional e as agtechs”, diz o analista de inovação do Sebrae Philippe Figueiredo.
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