HomeEcologiaEconomia

Prejuízo na pecuária: fogo destrói 44% das pastagens plantadas no Brasil

Prejuízo na pecuária: fogo destrói 44% das pastagens plantadas no BrasilAmazônia e Cerrado concentram destruição de pastagens plantadas. Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace

Desmatamento e queimadas explodem na Amazônia
Ameaçada, moratória da soja pode ser redefinada nesta semana
Baixo controle sobre cadeia da carne prejudica investimentos no setor

Por André Garcia

Segundo dados do MapBiomas publicados na quinta-feira, 21/11, o fogo afetou quase metade (44%) dos 164,5 milhões de hectares de pastagens plantadas no Brasil nos últimos 38 anos. A porcentagem representa 72,6 milhões de hectares e acende um alerta aos pecuaristas, já que a situação limita a capacidade do pasto de sustentar o rebanho, podendo levar à redução no peso do gado e à necessidade de abate precoce.

Isso acontece porque o fogo causa problemas como a compactação e erosão do solo, além de prejudicar sua fertilidade ao eliminar matéria orgânica e microrganismos essenciais. Ou seja, além de destruir pastagens cultivadas com altos custos de preparo do solo, semeadura e manejo, as queimadas implicam na necessidade de compra de ração ou forragem para o gado, elevando os custos de produção.

Em nota técnica, o MapBiomas aponta que as pastagens plantadas têm sido importantes fontes de ignição e propagação de queimadas no Brasil. Para se ter ideia, entre 1985 e 2023 elas foram a segunda classe de cobertura e uso da terra mais queimada no Brasil, atrás somente da classe de formação savânica, o que reforça a necessidade de estratégias regionais de controle do fogo e manejo sustentável.

A área de pastagens queimadas variou ao longo dos anos, com uma média anual de 4,6 milhões de hectares queimados, ou um quarto da área queimada anualmente (18 milhões ha/ano). De acordo com a diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e coordenadora do MapBiomas Fogo, Ane Alencar, essa variação reflete os contextos econômicos e políticos que impulsionam as mudanças de uso da terra e as flutuações climáticas.

“Fenômenos como o El Niño causaram secas extremas e episódicas, impactando diretamente a extensão das áreas queimadas, especialmente em anos críticos como, por exemplo, 1987/1988, 1998/1999, 2005, 2007 e 2010, entre outros. Nesses períodos registra-se uma área queimada maior, caracterizada por picos na série temporal devido a condições de estiagem prolongada, o que aumenta a inflamabilidade da vegetação e favorece a propagação do fogo, incluindo em áreas de pastagem”, explicou.

A análise reforça que, embora o fogo venha sendo usado como uma solução barata e eficaz para uniformizar e renovar as pastagens, a dependência dessa estratégia não se mostra mais viável. Prova disso é que em regiões onde a pecuária já está estabelecida há muitos anos, com maior infraestrutura e manejo adequado, o uso do fogo é menos comum ou até inexistente.

Amazônia e Cerrado concentram 92% da destruição

Como temos mostrado, esse tipo de vegetação vem avançando pelos biomas. Em 2023 o Brasil possuía 164,5 milhões de hectares de pastagens plantadas, ou 19% do território nacional. Elas respondem por 59% da área destinada à agropecuária no país. Desde 1985, as pastagens aumentaram em 82%, com Amazônia (59 milhões de hectares) e Cerrado (51 milhões de hectares) concentrando a maior parte dessa expansão.

Quase 70% desse total (49,3 milhões de hectares) ocorreu na Amazônia, onde 83% dos 59 milhões de hectares queimaram pelo menos uma vez. Em seguida vem o Cerrado, com 24%, (17,3 milhões de hectares). Os dois biomas correspondem a 67% de toda a área ocupada por pastagens plantadas no País, respondendo pela quase totalidade (92%) da área queimada desde 1985.

No caso das áreas queimadas mais de uma vez, o percentual total no Brasil é de 67%. Na Amazônia, essa recorrência foi ainda maior, com 76% das pastagens queimando duas ou mais vezes; destas, 41% queimaram entre duas e três vezes, e 34% mais de quatro vezes. No Cerrado, 20% das áreas queimadas registraram fogo duas vezes, e 32% mais de três vezes ao longo do período de análise.

Pastagem plantada

Pastagens plantadas são áreas de vegetação cultivadas especificamente para alimentar o gado. Diferentemente das pastagens naturais, que crescem espontaneamente em áreas nativas, as pastagens plantadas envolvem a semeadura de gramíneas ou leguminosas que apresentam maior capacidade de produção de biomassa, qualidade nutricional superior e adaptação ao clima e solo da região.

LEIA MAIS:

Seca no Pantanal é impulsionada por avanço de pastagem

Governo oferecerá R$ 8 bi para recuperação de pastagem degradada

Abertura de pastagem causa 90% do desmate na Amazônia

Recuperar pastagem é mais barato que desmatar, diz estudo

Com seca e queimadas demanda por seguro pecuário cresce 27%

Controle do pasto com fogo é mau negócio para produtor

Clima exige substituição urgente do uso fogo no campo

Saiba quais estratégias beneficiam o pecuarista na hora de pedir crédito