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MT investe em manejo para enfrentar queimadas

MT investe em manejo para enfrentar queimadasCasos recentes comprovam esta eficácia do uso controlado do fogo. Foto: Secom-MT

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Por André Garcia

Um ano após a implementação da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (PNMIF), Mato Grosso, um dos estados mais afetados pelos incêndios florestais em 2024, quer mostrar que investir em prevenção, com uso de queimas prescritas e manejo integrado, é mais eficiente e seguro do que focar exclusivamente no combate.

Ao Gigante 163, o comandante do Batalhão de Emergências Ambientais (BEA) do Corpo de Bombeiros Militar (CBMT), Rafael Ribeiro Marcondes, explica que a estratégia reduz o risco de grandes queimadas e preserva áreas de alto valor ecológico, especialmente em biomas sensíveis como o Pantanal, Cerrado e a Amazônia.

“A nova legislação reconhece a importância do fogo como ferramenta de manejo, promovendo uma gestão ambiental mais eficiente e sustentável. Foi uma mudança altamente positiva, pois consolidou esforços já empreendidos por estados como Mato Grosso”, explicou.

Casos recentes comprovam esta eficácia do uso controlado do fogo. Em 2023, no Parque Estadual Serra Ricardo Franco, ele ajudou a proteger ninhos de aves e trilhas turísticas. Já em 2024, na Área de Proteção Ambiental Chapada dos Guimarães foi fundamental para impedir que incêndios atingissem áreas habitadas e atrativos turísticos.

“As queimas prescritas são planejadas com base em princípios ecológicos e técnicos, permitindo a redução do material combustível e a formação de aceiros naturais. Isso diminui a intensidade e a propagação de eventuais incêndios, protegendo a biodiversidade e evitando grandes prejuízos ambientais e econômicos”, diz Marcondes.

Clima extremo reforça necessidade de prevenção

A partir de maio, quando começa o período de estiagem, ele alerta ainda para a ameaça do cenário climático atual. No Estado, tudo isso se soma ao desafio de acesso a algumas regiões, especialmente no Pantanal, onde as condições geográficas muitas vezes inviabilizam o deslocamento terrestre, exigindo ações com aviões e helicópteros.

“Secas prolongadas intensificam o acúmulo de material combustível seco, tornando a vegetação altamente inflamável. Ondas de calor, além de favorecerem a ignição e a propagação, também comprometem a resistência física das equipes em campo, exigindo cuidados adicionais com hidratação, pausas operacionais e gestão do esforço” alerta.

Outro fator crítico são as rajadas de vento forte, que alteram rapidamente o comportamento do fogo, podendo provocar mudanças bruscas de direção e aumentar significativamente sua velocidade de propagação. “Isso representa risco direto às equipes de combate e dificulta a contenção dos incêndios”, acrescenta.

Mobilização

De acordo com o comandante, a Política Nacional, instituída pela Lei nº 14.944/2024, além de reconhecer o uso controlado do fogo como ferramenta legítima, amplia as ações preventivas que já eram desenvolvidas no Estado, o que inclui a capacitação contínua das equipes do Corpo de Bombeiros.

 O trabalho de prevenção também envolve propriedades rurais e comunidades tradicionais. Por meio de treinamentos em terras indígenas, comunidades quilombolas e assentamentos, por exemplo, moradores são capacitados para o uso seguro do fogo e para a adoção de práticas que aumentam a resiliência de suas áreas frente aos incêndios.

“Têm sido realizados treinamentos promovendo a disseminação de boas práticas no uso do fogo e aumentando a resiliência local. Para este ano, está previsto um projeto de parceria específico para ampliar a capacidade de resposta em territórios indígenas e zonas rurais”, acrescenta Rafael.

 A mobilização também depende da articulação entre diferentes instituições. O comandante reforça que o Corpo de Bombeiros atua de forma integrada com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA) e com órgãos federais como o ICMBio e o IBAMA para fortalecer a resposta aos grandes incêndios nesta temporada.

Prejuízos

Em 2024, Mato Grosso foi um dos estados mais afetados por incêndios florestais, com 2,3 milhões de hectares queimados entre janeiro e agosto. No mesmo período, o estado também foi o que registrou o segundo maior prejuízo econômico, com perda de R$ 2,3 bilhões, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Além disso, como já mostramos, as queimadas prejudicam os ao solo, tanto em áreas agrícolas como florestais, afetando a sua fertilidade, estrutura e biodiversidade. A perda de matéria orgânica, a redução da cobertura vegetal, o aumento da hidrofobicidade (resistência à água) e a elevação da acidez (pH) são alguns dos impactos diretos.

 

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