HomeEconomia

Agro precisa de nova revolução para evitar prejuízos causados pelo clima

Agro precisa de nova revolução para evitar prejuízos causados pelo climaTransição exige mudanças estruturais. Foto: Divulgação/Ministério das Comunicações

Agroecologia traz aumento de 40% em vendas de pequenos produtores do norte de MT
Confira cinco mitos sobre agricultura regenerativa
Solo será chave para enfrentar pragas nos próximos anos

O agronegócio brasileiro viveu nas últimas décadas uma grande transformação, impulsionada por avanços científicos e tecnológicos. Mas os limites desse modelo já começam a se impor, com degradação de solos, redução na quantidade de água disponível e impactos crescentes das mudanças climáticas sobre a produção agropecuária.

Em entrevista publicada pela Valor Econômico, o diretor acadêmico da FDC Agroambiental, Marcello Brito, defendeu que o País precisa dar um novo salto e buscar uma agricultura baseada em práticas regenerativas.

“A agricultura que desenvolvemos nas últimas décadas trouxe um saldo de degradação. Hoje, aproximadamente 40% das áreas agrícolas do mundo estão degradadas. Precisamos de um novo salto”, afirmou Brito, ao lembrar que a produtividade no Brasil cresceu 4% ao ano, mas caiu para pouco mais de 1%.

Ele ressaltou que parte dessa desaceleração decorre da degradação dos solos, mas que a principal causa é a mudança climática, cada vez mais evidente no campo. “A revolução nós fizemos, agora nós precisamos evoluir nessa revolução. Aquilo que achamos sustentável hoje não necessariamente será amanhã.”

Sem água, não há agricultura

A seca é o ponto mais sensível do agronegócio e pode comprometer o futuro da produção brasileira. “Sem água não tem agricultura. Floresta é caixa d’água”, diz Brito ao lembrar que algumas regiões que já sofrem com perdas agrícolas significativas por conta do clima.

“Quantos bilhões precisamos perder para que a sociedade entenda que isso é dinheiro e tempo não recuperáveis?”, questionou.

Sobre as críticas de produtores que dizem adotar boas práticas e se sentem incompreendidos, o desafio atual é dar escala e transformação. “As pessoas acham que o produtor está fazendo errado, mas não. É porque não é mais suficiente, precisa evoluir. Não dá mais para se esconder atrás de qualquer sombra.”

Mudança estrutural

A transição para uma agricultura regenerativa, segundo ele, exige mudanças estruturais. A primeira diz respeito ao financiamento. Já a segunda envolve a mudança de paradigma entre os produtores, enquanto a terceira envolve a garantia de renda para o pequeno e médio agricultor.

Ele comparou a situação do Brasil com a dos Estados Unidos, onde produtores têm cobertura total em caso de eventos climáticos extremos. “A agricultura americana é sem risco. Em qualquer extremo climático, todos os custos envolvidos serão cobertos pelo seguro. No Brasil não, aqui o produtor quebra.”

Mesmo diante dos desafios, Brito afirma que o Brasil tem potencial para liderar a transformação ambiental no campo.

“As transformações muito provavelmente se darão mais rapidamente nos Estados Unidos ou em um país que tenha um sistema de aplicação de ciência e tecnologia e um sistema diferenciado de financiamento e seguros mais avançados. Mas nós vamos alcançar.”

 

LEIA MAIS:

Fundo quer investir meio bilhão na agricultura regenerativa em Goiás

Confira cinco mitos sobre agricultura regenerativa

Pecuarista aumenta produção em 10x com estratégia regenerativa

Agricultura regenerativa pode triplicar lucro em fazendas de MT

Cerrado pode dobrar produção com agricultura regenerativa

Cresce a frequência de eventos climáticos extremos em MT

Clima deve agravar em 46% doenças nas lavouras, diz Embrapa

Clima ajuda a elevar pedidos de recuperação judicial no agro