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Crime organizado sustenta desmate e ameaça economia na Amazônia

Crime organizado sustenta desmate e ameaça economia na AmazôniaCrime organizado abrange pelo menos um terço da Amazônia Legal. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia

A presença do crime organizado na Amazônia é hoje um dos principais obstáculos à preservação da floresta e ao controle das emissões de gases de efeito estufa no Brasil. O alerta faz parte do estudo “Top Trends COP 30”, que reúne avaliações de 18 especialistas sobre os temas que devem dominar as discussões da Conferência do Clima (COP 30).

De acordo com o documento, o enfrentamento à criminalidade na Amazônia precisa integrar de forma explícita a agenda ambiental do País, já que o crime organizado sustenta redes ilegais que financiam a destruição da floresta, movimentando não apenas o comércio clandestino de madeira, mas também tráfico de armas e drogas.

“Discutimos bastante sobre as soluções da bioeconomia, que são fundamentais, mas um dos principais entraves à conservação da Amazônia é o crime organizado. Muitas vezes, essa questão fica descolada da pauta ambiental por ser um tema sensível e complexo”, diz a responsável pelas práticas de investimentos sustentáveis do Santander Asset Management.

Um relatório divulgado recentemente pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) reforça a gravidade da situação. Em 2021, por exemplo, a região registrou uma média de quase 30 mortes por 100 mil habitantes, número 41% superior à média nacional, que foi de 21 por 100 mil.

O documento aborda ainda o conceito de “narco-desmatamento”, explicando que o crime organizado tem utilizado atividades como a grilagem de terras, a exploração ilegal de madeira e investimentos na pecuária para lavar dinheiro do tráfico de drogas. Esse ciclo facilita a inserção de produtos de origem criminosa nas cadeias produtivas legais.

Tudo isso mostra como uma rede internacional vem alimentando uma sobreposição de ilegalidades, que incluem invasões ilegais, mineração clandestina, desmatamento para expansão da pecuária e tráfico de drogas.  Assim, para Luzia, tratar o desmate sem enfrentar as estruturas que o sustentam é apenas atacar os sintomas, não as causas.

 “O desmatamento ilegal é um crime, mas ele não ocorre isoladamente. Há redes de compradores, muitas vezes fora do Brasil, financiando essa destruição. Além disso, a região também enfrenta o tráfico de armas e drogas, criando um cenário de grande instabilidade para qualquer solução de longo prazo”, acrescenta a executiva.

Prejuízo para o País

Na prática, o avanço do crime organizado na Amazônia compromete a efetividade de políticas de clima e a atração de investimentos. Mesmo projetos de bioeconomia e de cadeias produtivas de baixo carbono podem ter impacto limitado se não houver controle efetivo sobre as atividades ilícitas na região.

Outro efeito crítico da expansão do desmatamento é a perda acelerada de biodiversidade, que ameaça espécies nativas e coloca em risco cadeias produtivas dependentes de recursos naturais, como a indústria farmacêutica e a produção de insumos de origem vegetal.

Deste modo, apesar de existirem iniciativas como fundos de investimento para soluções sustentáveis já em curso, a avaliação dos especialistas é que o impacto desses projetos continuará reduzido enquanto as redes criminosas permanecerem ativas.

Desafios

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o crime organizado já está presente em pelo menos um terço da Amazônia Legal. Só o Comando Vermelho, originado no Rio de Janeiro, domina cerca de 130 cidades na região, onde o total de municípios sob influência de facções passou de 178 para 260 entre 2022 e 2023.

Assim, embora o Brasil tenha papel central na agenda climática global, uma vez que o desmatamento é sua principal fonte de emissão de GEE, os esforços do Governo ainda são insuficientes diante da complexidade do problema. Além disso, por parte do setor privado, também há limites para uma atuação mais direta.

“Podemos apoiar iniciativas sustentáveis, mas combater o crime organizado extrapola nosso campo de atuação. Ainda assim, seria possível discutir isso de forma mais estruturada, por meio de associações de classe ou articulações setoriais”, sugere Luiza.

 

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