Por André Garcia
Ao longo dos últimos 40 anos, o fogo atingiu 24% do Brasil, afetando principalmente o território de Mato Grosso. Os dados são do Relatório Anual do Fogo (RAF), do MapBiomas, e mostram que as queimadas estão cada vez mais recorrentes, e concentradas, além de estarem avançando sobre as florestas da Amazônia e do Cerrado.
De acordo com o estudo, divulgado na terça-feira, 24/6, só em 2024 foram queimados mais de 30 milhões de hectares, um volume 62% acima da média histórica. A alta, segundo o pesquisador do IPAM e coordenador do mapeamento no Cerrado, Felipe Martenexen, resultada da ação humana e da crise climática.

Crédito: MapBiomas
“Embora o desmatamento tenha diminuído, o uso do fogo na conversão florestal e no manejo agropecuário, associado à intensificação de condições climáticas adversas, como períodos mais longos de seca e aumento das temperaturas, tem intensificado os incêndios, tornando-os mais frequentes e difíceis de controlar”, afirma.
Mato Grosso lidera ranking nacional
O levantamento mostra que Mato Grosso tem a maior área queimada acumulada do País, com quase 45 milhões de hectares afetados. Ao lado de Pará e Maranhão, o estado responde por 47% do total registrado nas últimas quatro décadas.
Os demais Estados que compõem a região do Matopiba — fronteira agrícola formada por partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia — completam as seis primeiras posições. Juntos, eles concentram mais de 64 milhões de hectares acumulados queimados desde 1985.

Crédito: IPAM
O levantamento também destaca a presença de quatro municípios mato-grossenses entre os 15 que mais queimaram no País: Cocalinho, Paranatinga, Cáceres e Vila Bela da Santíssima Trindade. Essas áreas estão distribuídas entre os biomas Cerrado, Pantanal e Amazônia, todos com ocorrência significativa de queimadas no estado.
Fogo mais forte e mais frequente
De acordo com o relatório, os incêndios têm se tornado fenômenos cada vez mais concentrado no tempo. Entre agosto e outubro ocorrem 72% de todas as queimadas registradas no Brasil. Só o mês de setembro responde por um terço da área total atingida pelo fogo.
Na Amazônia, 64,6% da área queimada entre 1985 e 2024 ocorreu entre agosto e outubro, com pico em setembro. O mesmo padrão se repete no Pantanal e no Cerrado, com a maior parte dos incêndios ocorrendo durante a estação seca, também entre agosto e outubro.
Outro dado que chama atenção é a recorrência: 64% dos registros ocorreram mais de uma vez, ou seja, mais da metade das áreas queimadas no Brasil enfrentaram o fogo em mais de uma ocasião ao longo dos últimos 40 anos.
Além disso, as dimensões das queimadas cresceram. Em 2024, quase um terço (29%) da área correspondeu a grandes eventos de fogo com mais de 100 mil hectares queimados. O padrão é diferente do que vinha sendo observado nas últimas décadas, quando a maior parte das áreas tinha entre 10 e 250 hectares.
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