Produtores de soja em Mato Grosso estão enfrentando um problema crescente: pragas que atacam as raízes da planta e podem derrubar a produção em até 30 sacas por hectare. O avanço dos chamados nematoides de cisto, uma ameaça silenciosa e difícil de controlar, preocupa especialmente por causa do uso de cultivares que não são resistentes a essas doenças.
Essa foi a principal constatação de uma pesquisa conduzida pela Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT) durante a safra 2024/25. O levantamento apontou um aumento expressivo na presença dessas pragas nas lavouras do estado, com destaque para a raça 4+, que saltou de apenas duas amostras na safra anterior para 17 nesta temporada. Os dados foram obtidos a partir da análise de amostras coletadas em diversas regiões produtoras de Mato Grosso.
De acordo com a pesquisadora Tânia Santos, da Fundação MT, o aumento da raça 4+ foi mais evidente nas áreas onde os produtores utilizam cultivares sem resistência.
“Isso indica que precisamos revisar as variedades de soja que estão sendo usadas e adotar estratégias de controle mais eficaz”, afirma.
A presença da raça 4+ foi mais expressiva na região de Sorriso, no médio-norte do estado. Mas outras regiões, como Alto Garças, Itiquira, Tesouro, Campo Verde, Primavera do Leste, Rondonópolis e Pedra Preta, no sul e sudeste, também registraram aumento de nematoides de cisto e de galha. A praga também avançou em Brasnorte, Campo Novo do Parecis, Santa Rita do Trivelato, Diamantino, Ipiranga do Norte, Nova Maringá e Nova Mutum.
Segundo a pesquisadora Rosângela Silva, também da Fundação MT, os nematoides de cisto são difíceis de controlar porque conseguem sobreviver ao vazio sanitário e se multiplicar novamente na safra seguinte, se não forem adotadas sementes resistentes à nematoide.
Rosângela lembra que, embora o impacto dos nematoides tenha sido menos percebido na safra passada devido às perdas climáticas, ele ficou mais evidente agora com o retorno da produtividade.
“A safra atual deixou isso claro: sem manejo adequado, as perdas podem ser significativas”, alerta.
Recomendação
A recomendação de especialistas é que os produtores adotem sementes resistentes por, pelo menos, duas safras consecutivas, intercaladas com milho, braquiária e defensivos biológicos, que permitem o desenvolvimento de microrganismos que combatem os nematoides.
Um estudo da Syngenta, realizado em parceria com a Agroconsult e a Sociedade Brasileira de Nematologia em 2023, estima que as perdas causadas pelos nematoides na soja podem chegar a R$ 27,7 bilhões por ano — o equivalente a perder uma safra a cada dez colhidas. Em todo o país, as perdas nas lavouras por conta dessas pragas são estimadas em R$ 65 bilhões anuais.
LEIA MAIS:
Integração lavoura-pecuária dobra carbono no solo e eleva produção
Plano Safra: boas práticas garantem desconto a 10 mil produtores