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Produtor omisso pode pagar até R$ 50 mi por incêndios

Produtor omisso pode pagar até R$ 50 mi por incêndiosEnquanto omissão pode custar caro, prevenção pode trazer lucro. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

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Por André Garcia

Historicamente marcado pela seca e pelo avanço das queimadas, agosto chega este ano com um alerta extra para o produtor rural: já está em vigor a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (PNMIF), que transforma a prevenção de incêndios florestais em obrigação legal e prevê multas de até R$ 50 milhões para quem se omitir.

Em Mato Grosso, a combinação de estiagem e de regras locais exige atenção redobrada. Nesta semana o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu alerta laranja para o Estado, indicando que nos próximos dias a umidade relativa do ar pode ficar entre 12% e 20%, aumentando o risco de queimadas.

Região com previsão de tempo seco e baixa umidade relativa do ar. Crédito: Inmet/

Não à toa, o Decreto Estadual nº 1.403/2025 proibiu o uso do fogo para limpeza e manejo de áreas na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal até o fim do ano, reforçando as proibições previstas na legislação federal.

Ainda assim, o cenário reflete nos registros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Neste mês, Mato Grosso é o terceiro no ranking nacional de focos de calor, com 515 ocorrências. Entre os dez municípios brasileiros com mais focos, dois estão no Estado: Colniza, em segundo lugar (159 focos), e Aripuanã em nono (59 focos).

Focos de calor por estado. Crédito: Inpe

Preço da omissão

Com a estiagem e a baixa umidade do ar elevando o risco de fogo no campo, a omissão pode custar caro. Neste ano, o início de queimadas em florestas ou outras vegetações nativas já gera multa de R$ 10 mil por hectare ou fração. No caso de florestas cultivadas, o valor é de R$ 5 mil.

Quando falamos em propriedades rurais, os donos podem ser multados entre R$ 5 mil e R$ 10 milhões, se as medidas de prevenção e combate não tiverem sido adotadas. No caso de fogo em áreas de criação de animais (agropastoris), sem autorização do órgão competente, a multa ao responsável passou de R$ 1 mil para R$ 3 mil.

A nova política também dobra o valor da multa aos responsáveis por incêndios em terras indígenas. Isso vale para “infrações ambientais que ocorrerem mediante uso de fogo ou provocação de incêndio”. O texto criou outras penalidades e multas que podem chegar a R$ 50 milhões.

Na prática, o rigor já está no campo. Nesta quinta-feira, 14/8, um homem foi preso em flagrante por atear fogo em vegetação no entorno do Parque Estadual do Cristalino, em Novo Mundo. A ação integrada dos Bombeiros, Polícia Militar e Sema controlou as chamas e levou o suspeito à delegacia por crime ambiental.

Produtor foi preso após denúncia. Foto: CBMMT

Evitando prejuízos

Pela Lei 14.944/2024, a atuação do produtor não é mais só uma recomendação. Eles devem manter aceiros limpos e com largura adequada, providenciar equipamentos e equipe treinada e acompanhar toda a operação até a extinção do fogo. Se houver omissão, ele poderá ser responsabilizado inclusive pelos custos do combate.

“O responsável pelo imóvel rural implementará ações de prevenção e de combate aos incêndios florestais em sua propriedade de acordo com as normas estabelecidas pelo Comitê Nacional de Manejo Integrado do Fogo e pelos órgãos competentes do Sisnama”, diz a norma.

Em Mato Grosso, vale reforçar as restrições temporárias. O decreto estadual proibiu a queima para limpeza e manejo de áreas na Amazônia e no Cerrado entre 1º de julho e 30 de novembro, e no Pantanal entre 1º de junho e 31 de dezembro, as exceções são para pesquisas científicas ou ações de órgãos públicos.

Transformando obrigação em vantagem

Embora para alguns produtores essas obrigações possam parecer um peso, elas também representam uma oportunidade. A adoção de práticas preventivas reduz prejuízos causados por incêndios, protege a produtividade e valoriza a imagem da propriedade, especialmente junto ao mercado internacional.

Assim, investir na capacitação da equipe, manter um planejamento anual de manejo integrado do fogo e adotar sistemas de cultivo que dispensem a limpeza com fogo são estratégias que evitam sanções e ainda facilitam o acesso a certificações e programas de incentivo voltados à sustentabilidade.

 

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