A guerra tarifária entre Estados Unidos e China voltou a impactar o mercado global de soja, abrindo mais espaço para os exportadores brasileiros. Com as negociações comerciais paralisadas, importadores chineses têm priorizado a compra do grão da América do Sul, em especial do Brasil, principal fornecedor mundial.
Segundo publicação da Exame, traders e analistas apontam que, em agosto, as importações chinesas atingiram um recorde de 12,3 milhões de toneladas. Estima-se que até 75% desse volume tenha origem brasileira, de acordo com a consultoria Datagro.
Para embarques em outubro, a China já reservou cerca de 7,4 milhões de toneladas de soja, o que cobre 95% da demanda projetada para o mês, além de 1 milhão de toneladas para novembro, cerca de 15% das importações esperadas.
O Brasil caminha para bater um recorde histórico de exportação: a previsão é de enviar 112 milhões de toneladas até janeiro de 2026, com a China como destino majoritário. Entre fevereiro e agosto de 2025, o país já embarcou 86 milhões de toneladas, o equivalente a 76% da meta projetada para o ano agrícola.
EUA em alerta
Nos Estados Unidos, a situação é de alerta. Historicamente, o país exporta a maior parte de sua soja para a China entre setembro e janeiro, antes do início da colheita brasileira. Este ano, no entanto, os compradores chineses ainda não reservaram soja americana para o novo ciclo.
Produtores do Arkansas, um dos principais estados exportadores, relataram dificuldades financeiras. Em vídeo divulgado nas redes sociais, agricultores afirmam que a “economia agrícola está em dificuldades” e que a colheita começa sem contratos firmados com o mercado chinês.
Alguns produtores chegaram a enviar cartas ao presidente Donald Trump pedindo que a soja seja prioridade nas negociações comerciais.
“Façam da soja uma prioridade em quaisquer negociações comerciais que estejam ocorrendo. A soja é a principal exportação agrícola para a China. Na última guerra comercial, ela representou 71% das perdas que tivemos como agricultores americanos”, disse um deles.
Balança comercial
No ciclo encerrado em agosto, os Estados Unidos venderam 22,9 milhões de toneladas de soja para a China, seu maior comprador. No ano anterior, o volume movimentou US$ 12,8 bilhões. Em 2018, no início da guerra comercial, a imposição de uma tarifa de 25% sobre os produtos agrícolas americanos levou a uma queda de 74% nas compras chinesas em relação a 2017.
A fatia perdida foi rapidamente ocupada pelo Brasil, que enviou 66 milhões de toneladas de soja para a China naquele ano, representando 75% das importações chinesas.
A Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) avalia que a ausência da soja americana deve reduzir os estoques chineses até o fim do ano, criando um cenário de maior demanda pelo produto brasileiro até a entrada da próxima safra, em fevereiro de 2025.
Atualmente, a China continua sendo o maior destino das exportações brasileiras, reforçando o protagonismo do país no mercado global.
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