Por André Garcia
Três em cada quatro hectares convertidos para agricultura na Amazônia são ocupados por lavouras de soja. A cultura ocupa 74,4% da área agrícola amazônica, totalizando 5,9 milhões de hectares em 2024. A maior parte dessa expansão, de cerca de 4,3 milhões de hectares, ocorreu após 2008, ano da assinatura da Moratória da Soja. Porém, essa expansão ocorreu sobre áreas já desmatadas, principalmente pastagens.
Os dados fazem parte de levantamento do MapBiomas, divulgado nesta segunda-feira, 15/9, e mostram que o acordo setorial, firmado entre empresas, sociedade civil e governo, que proíbe a compra da cultura cultivada em áreas desmatadas no bioma após 2008, foi decisivo para reduzir a derrubada direta de florestas para o plantio. Entre 2008 e 2024, o cultivo da oleaginosa cresceu 1.047% (2,8 milhões de hectares) em áreas já abertas de pastagem.
Resultado: a conversão direta de áreas de vegetação nativa para soja caiu, assim, 68% – menos 769 mil hectares – de lá para cá.
De acordo com o MapBiomas, a produção também cresceu sobre áreas agrícolas que já existiam, adicionando 1 milhão de hectares, o que equivale a uma expansão de 2.708%.
Pastagens seguem como principal vetor de transformação
A expansão da soja ocorre em um cenário em que as pastagens continuam sendo o principal vetor de transformação do bioma. Em quatro décadas, a área destinada à pecuária cresceu 355%, saltando de 12,3 milhões de hectares em 1985 para 56,1 milhões em 2024.
Segundo o levantamento, a abertura de áreas para pastagens foi responsável por 43,8 milhões de hectares convertidos, mantendo a pecuária como atividade predominante e ocupando mais da metade de toda a área com uso antrópico.
Mas outras atividades também avançaram na região. A agricultura como um todo cresceu 44 vezes, passando de 180 mil hectares para 7,9 milhões de hectares entre 1985 e 2024, enquanto a silvicultura teve a expansão proporcional mais intensa: de 3,2 mil hectares para 352 mil hectares, um aumento superior a 110 vezes.
Nos últimos anos, a mineração ganhou relevância, saindo de 26 mil hectares em 1985 para 444 mil hectares em 2024, com avanço acelerado na década mais recente.
Moratória da soja enfrenta pressão
Apesar dos resultados, a Moratória da Soja vem sofrendo ofensivas políticas e jurídicas há algum tempo. Recentemente, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) suspendeu a Moratória da Soja, medida que, na sequência, foi derrubada pela Justiça.
Apesar da derrubada, ainda assim, em estados como Rondônia, Mato Grosso, Maranhão e Tocantins foram aprovadas leis que restringem benefícios fiscais a empresas signatárias de compromissos ambientais, numa tentativa de enfraquecer acordos voluntários de combate ao desmatamento. O movimento acende um alerta para o setor.
“Os ataques à Moratória da Soja tornam-se ainda mais preocupantes diante do atual cenário de crise climática, com a intensificação de eventos climáticos extremos, que já afetam inclusive a produção agrícola”, explicou recentemente a coordenadora do programa de Conservação e Clima do ICV, Ana Paula Valdiones.
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