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Investidores alertam para prejuízo de US$ 300 bi por falta de água

Investidores alertam para prejuízo de US$ 300 bi por falta de águaFoto: Agência Brasil

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Por André Garcia

A falta de água pode gerar prejuízos de até US$ 300 bilhões nos próximos anos, afetando principalmente a produtividade e os custos da agropecuária. O alerta vem da rede internacional de investidores FAIRR, que destaca que este valor é cinco vezes maior do que os investimentos necessários para preservar o recurso.

A publicação lembra que 60% do PIB global depende do acesso à água e que 70% da água doce do planeta já é utilizada pela agropecuária. A produção de laticínios, por exemplo, consome em média 2.714 litros por quilo de produto, enquanto a carne suína consome 1.796 litros e a carne bovina, 1.451 litros.

“A retirada de água na pecuária intensiva é uma questão urgente. A má gestão hídrica expõe a indústria pecuária, avaliada em trilhões de dólares, e seus investidores — diretos e indiretos — a grandes riscos em toda a cadeia de valor do agronegócio e da alimentação”, diz trecho da publicação.

Impacto no Brasil

O Brasil perdeu 400 mil hectares de superfície de água em 2024, mantendo uma tendência de queda registrada desde 2009. Segundo o MapBiomas, o País fechou o ano passado com 17,9 milhões de hectares, volume 4% abaixo da média histórica iniciada em 1985. Amazônia, Cerrado e Pantanal foram os biomas mais afetados.

Nos últimos 40 anos, o País também viu a água natural ser substituída por água represada em reservatórios e hidrelétricas. Enquanto rios e lagos perderam 2,4 milhões de hectares, os ambientes artificiais cresceram 1,5 milhão de hectares, uma alta de 54%.

Ameaça da irrigação

Diante da escassez, a irrigação aparece como saída rápida para manter a produtividade, mas seu crescimento acelerado traz riscos ainda maiores a longo prazo. Levantamento da Embrapa mostra que o Brasil conta hoje com 2,2 milhões de hectares irrigados por pivôs centrais, crescimento de 14% em relação a 2022.

Embora o método possa triplicar a produtividade por área, ele aumenta a pressão sobre aquíferos e mananciais. Em algumas regiões do Aquífero Guarani, por exemplo, o rebaixamento do nível de água em grandes poços já chega a 100 metros em uma década, elevando os custos de bombeamento e reduzindo a disponibilidade de água.

Urgência na adaptação

As propostas da FAIRR para reverter o quadro se refletem em toda a cadeia produtiva. Ao exigir que empresas e frigoríficos monitorem e relatem o uso da água, investidores pressionam por maior transparência em cada etapa da produção. Isso aponta para o avanço de programas de rastreamento e gestão hídrica nas propriedades.

Da mesma forma, metas de redução no consumo de água e de conservação de recursos naturais, quando adotadas por grandes companhias, tendem a se transformar em critérios para fornecedores, impactando diretamente quem produz.

Ou seja, a água, que por muitos anos foi tratada como recurso infinito, agora deve ser gerida como ativo estratégico. Para o produtor rural, isso significa que cada decisão de manejo pode influenciar não só a saúde ambiental da propriedade, mas também o acesso a mercados e a estabilidade financeira do negócio.

 

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