HomeEconomia

Centro Oeste lidera inadimplência no agro, com R$ 15 bi em dívidas

Centro Oeste lidera inadimplência no agro, com R$ 15 bi em dívidasRegião tem cerca de R$ 15 bilhões em dívidas. Foto: CNA

Aprosoja aponta risco de prejuízo na 2ª safra de milho em MS
BlackRock diz que não investe mais no Brasil enquanto Bolsonaro governar
Parceria com a China leva tecnologia para além das grandes fazendas

Por André Garcia

O Centro-Oeste concentra, ao mesmo tempo, os maiores investimentos e os maiores valores de endividamento do agronegócio nacional. Segundo o Boletim Agro da Serasa Experian, a região registrou no segundo trimestre de 2025 aproximadamente R$ 15 bilhões em dívidas negativadas relacionadas ao setor, o maior montante do País.

De acordo com o boletim, em todo o Brasil, 8,1% da população rural estava inadimplente no período, considerando dívidas com atraso superior a 180 dias. O índice representa uma alta anual de 1,1 ponto percentual na comparação com o mesmo trimestre de 2024.

“Os indicadores apontam uma piora lenta, porém contínua, na capacidade da população rural de manter-se adimplente. O agronegócio enfrenta desafios de fluxo de caixa e endividamento acumulados nos últimos 3 a 4 anos, exigindo atenção e reestruturação”, explica Marcelo Pimenta, head de agronegócio da Serasa Experian.

Embora não esteja entre as regiões com maior número de produtores inadimplentes, o Centro-Oeste se destaca pelo peso financeiro das dívidas. O ticket médio por CPF nessas operações chegou a R$ 186 mil, praticamente o dobro da média nacional, e o número médio de negativações por produtor ultrapassou dois registros.

“Fatores como custo de produção elevado, variação nos preços das commodities e crédito mais caro explicam esse cenário, reforçando a importância da gestão de risco apoiada por dados e inteligência analítica”, diz Marcelo.

Mais risco, menos crédito

O resultado acompanha um ambiente de maior risco no setor, marcado pelo avanço da inadimplência e pela queda do Agro Score, fatores que pressionam as condições de crédito. A concessão de crédito rural e agroindustrial alcançou R$ 83 bilhões no primeiro semestre de 2025, volume é 16% menor em relação ao mesmo período de 2024.

“O setor convive com desafios como a elevação gradual da inadimplência, eventos climáticos e critérios mais rigorosos de conformidade socioambiental. Nesse contexto, dados e modelos preditivos ganham ainda mais relevância”, afirma Marcelo Pimenta.

Liderança nos valores do crédito rural

A região também lidera os principais indicadores de financiamento rural. O valor médio por contrato alcançou R$ 468 mil, o maior entre todas as regiões agrícolas analisadas. O Centro-Oeste apresentou ainda a maior média de contratos por produtor (1,37) e o maior ticket médio por CPF, que atingiu R$ 639 mil.

No recorte estadual, Mato Grosso se destaca como o estado com operações mais robustas. O ticket médio por contrato atingiu R$ 664,7 mil, o maior do Brasil, enquanto o ticket médio por produtor chegou a R$ 973,7 mil.

Cenário Nacional

A taxa de inadimplência do agronegócio brasileiro alcançou 8,1% nas operações com atraso superior a 180 dias. O desempenho varia de acordo com a região: o Sul registrou a menor taxa do País, com 5,3%, enquanto o Norte apresentou os patamares mais elevados, acima da média nacional em todos os portes de produtores.

O boletim também mostra que a inadimplência diminui conforme aumenta a idade do produtor rural. Entre os mais jovens, de 18 a 29 anos, a taxa ultrapassa 11%, enquanto na faixa de 30 a 39 anos chega a cerca de 12%. Já entre os produtores com mais de 80 anos, o índice recua para 3,6%, menos da metade da média nacional.

Embora não sejam os que mais acumulam atrasos, os grandes proprietários rurais reúnem as dívidas de maior valor no setor. No recorte nacional, eles apresentam taxa de inadimplência de 9,2%, próxima à dos produtores sem registro rural, que chega a 10,5%, mas os montantes envolvidos são significativamente mais altos.

 

LEIA MAIS:

Seguro Rural terá regras ambientais mais duras em 2026

COP30: Restauração florestal ganha seguro no Brasil

Menos da metade dos prejuízos climáticos é coberta por seguro

Agro se articula com foco na COP30 e no seguro rural

Produtor de soja terá seguro maior com solo bem manejado

Seguro rural tem que ser mais barato e sustentável

Clima deve aumentar perdas no seguro rural em 2025