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COP30: Florestas fortalecem agricultura frente à crise climática

COP30: Florestas fortalecem agricultura frente à crise climáticaFoto: Manoela Meyer/ISA

Desmatamento deprecia terra e commodities agrícolas, diz estudo
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Agro precisa escolher entre retrocesso ambiental e liderança global

Longe de competir pelo uso da terra com a agricultura, as florestas funcionam como um suporte vital para o produtor agrícola. Promover a colaboração entre as duas é, portanto, essencial para a transformação sustentável da agropecuária diante das mudanças climáticas. A conclusão é de um relatório divulgado nesta quarta-feira (19), na COP30, em Belém.

Publicado em conjunto pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Instituto Ambiental de Estocolmo, a Conservation International e a The Nature Conservancy, o relatório “Benefícios climáticos e dos serviços ecossistêmicos das florestas e árvores para a agricultura” destaca como os serviços prestados por florestas podem fortalecer os sistemas agroalimentares. O relatório apela para políticas, investimentos e melhor gestão para transformar essas evidências em ações concretas.

“As florestas e as árvores são frequentemente vistas como concorrentes da agricultura pelo uso da terra, ou como periféricas à agricultura, mas a conservação e a restauração das florestas são, na verdade, cruciais para impulsionar a produtividade agrícola”, afirmou Zhimin Wu, diretor Florestal da FAO.

Quanto custa a perda florestal

O estudo quantifica o preço imediato da perda florestal. No Brasil, por exemplo, a conversão de florestas tropicais em terras agrícolas demonstrou reduzir a evapotranspiração – a transferência de água para a atmosfera – em até 30%, elevando as temperaturas locais e perturbando os padrões de chuva essenciais para o plantio.

Globalmente, o problema é sistêmico: a agricultura em 155 países depende de florestas transfronteiriças, que são responsáveis por até 40% da precipitação anual. Isso torna a proteção florestal uma prioridade estratégica global, não apenas local, para a segurança alimentar.

Além disso, a perda de vegetação custa vidas: estima-se que o aumento da temperatura de superfície terrestre, causado pelo desmatamento tropical, tenha contribuído para cerca de 28.000 mortes anuais relacionadas ao calor entre 2001 e 2020.

O aquecimento de microclimas em áreas desmatadas entre 2003 e 2018 também reduziu a jornada de trabalho segura para até 2,8 milhões de trabalhadores ao ar livre. Por outro lado, o resfriamento natural oferecido pelas florestas reduz o estresse térmico para plantações e trabalhadores, protegendo a saúde humana e aumentando a produtividade rural.

Oportunidade: restaurar para resfriar a terra

O caminho de volta é a integração. O relatório aponta que a restauração de apenas metade das florestas tropicais perdidas no mundo poderia reduzir a temperatura da superfície terrestre em um grau Celsius inteiro, restabelecendo os ciclos de água e as funções de regulação climática.

Para a resiliência climática e a segurança alimentar, o documento destaca a necessidade de abordagens integradas.

As florestas e árvores fornecem serviços como polinização, controle biológico de pragas, ciclagem de nutrientes e controle da erosão, essenciais para a produtividade. A incorporação estratégica de árvores nos sistemas agrícolas, como quebra-ventos, faixas ripárias e manchas florestais, são soluções chaves destacadas pela FAO.

Por fim, o relatório exige o fim da compartimentalização entre o uso sustentável da biodiversidade, proteção ambiental, agricultura, gestão dos recursos hídricos e saúde pública, apelando por estratégias que reconheçam a estrita ligação entre florestas e agricultura para garantir a prosperidade das comunidades e a saúde dos ecossistemas.