Por André Garcia
Nove países anunciaram apoio ao Raiz, nova iniciativa global liderada pelo Brasil para financiar a restauração de terras degradadas e impulsionar a produção agropecuária sustentável. O compromisso foi formalizado na quarta-feira (19), durante a COP30, em Belém (PA), e pode levar até um quinto das terras agrícolas do mundo de volta ao uso produtivo.
“O Raiz representa o enorme potencial que temos adiante: trazer até um quinto das terras agrícolas do mundo de volta para um uso mais produtivo e sustentável”, disse Kaveh Zahedi, diretor do Escritório de Mudanças Climáticas, Biodiversidade e Meio Ambiente da FAO.
A instituição destaca que os benefícios vão além da recomposição do solo: a proposta é manter a capacidade produtiva a longo prazo, reduzir riscos para agricultores e garantir o uso sustentável da biodiversidade. Para isso, o Raiz pretende mobilizar investimentos e parcerias internacionais em larga escala.
Como vai funcionar
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), o programa vai mapear terras degradadas ao redor do mundo, identificar soluções de investimento e criar mecanismos que integrem recursos públicos, privados e filantrópicos. A lógica é conectar oferta de financiamento a projetos de recuperação com potencial produtivo.
A iniciativa também quer fortalecer o compartilhamento de conhecimento técnico entre países e regiões, permitindo que modelos de restauração sejam adaptados às diferentes realidades produtivas. A expectativa é que governos interessados possam criar mecanismos nacionais alinhados às diretrizes globais.
Potencial
Segundo a Coalizão de Alimentação e Uso da Terra, reverter apenas 10% da degradação das terras agrícolas poderia restaurar 44 milhões de toneladas de produção anual de alimentos e atender às necessidades nutricionais de 154 milhões de pessoas. Porém, a percepção é de que o capital não está fluindo na escala necessária.
“Ainda existe uma lacuna de US$ 105 bilhões de financiamento, que os governos sozinhos não conseguem preencher. O setor privado poderia investir até US$ 90 bilhões em soluções baseadas na natureza em fazendas, mas tem dificuldades para mobilizar fundos devido aos altos custos iniciais, longos prazos de retorno e retornos variáveis”, explicou.
Desta forma, a participação dos governos é considerada fundamental na redução de riscos do capital privado.
“Bancos de desenvolvimento, investidores privados e parceiros filantrópicos são todos necessários para desbloquear soluções que tragam financiamento aos agricultores e restaurem as terras agrícolas produtivas do mundo”, reforçou o grupo.
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