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Busca por minerais acelera crise climática em Goiás

Busca por minerais acelera crise climática em GoiásCrescimento da mineração ameaça ecossistema do Cerrado. Foto: Greenpeace

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O estado de Goiás tem se destacado na corrida pelos minerais estratégicos para a chamada transição energética, mas esse avanço acelerado da mineração pode provocar mudanças drásticas no clima. Um novo estudo do Observatório da Mineração revela que o estado, quarto maior produtor mineral do Brasil, já sente os efeitos das mudanças climáticas agravadas pelas atividades do setor.

Além de Goiás, o estudo também identificou situações críticas em Minas Gerais,  Bahi e Pará, onde a mineração tem provocado impactos semelhantes sobre a disponibilidade de água, a biodiversidade e o clima.

Goiás tem uma diversidade geológica rica e abriga minas de cobre, ouro, níquel, fosfato, nióbio e até terras raras, com dezenas de projetos em expansão. No entanto, o crescimento da mineração representa uma ameaça direta ao ecossistema do Cerrado, com efeitos colaterais sobre os recursos naturais e a qualidade de vida da população local.

O alto risco de rompimento de barragens, a contaminação de fontes vitais de água e o deslocamento de comunidades locais ressaltam a necessidade de uma supervisão mais rigorosa e de práticas de gestão socioambientalmente responsáveis.

Para os especialistas, a mineração, que tem sido vendida como solução verde para a transição energética, pode, na prática, estar agravando a crise climática.

“Estamos trocando uma dependência fóssil por outra ainda maior, de base mineral, que exige a abertura de centenas de minas em áreas sensíveis como o Cerrado e a Amazônia”, explicou Maurício Angelo, diretor do Observatório da Mineração.

Clima extremo e colapso hídrico

De acordo com o estudo, 37% das sub-bacias hidrográficas de Goiás registraram redução superior a 10% na extensão dos rios, o que representa um nível de “alto risco”. A situação é ainda mais crítica em regiões com forte presença de mineração, onde já se nota escassez de água e aumento da competição pelo uso dos recursos hídricos entre empresas, agricultura e comunidades locais.

A pesquisa mostra que Goiás está mais exposto a uma combinação perigosa de dias secos consecutivos e temperaturas extremas, o que agrava o risco de interrupções nas operações de mineração e eleva as chances de conflitos entre mineradoras e populações afetadas.

Entre os casos mais graves, está a atuação da Mosaic Fertilizantes, que opera em Catalão e Ouvidor e possui 12 barragens de rejeitos classificadas como de alto risco. Moradores denunciam desapropriações forçadas, contaminação da terra, doenças respiratórias e casos de câncer.

Outro exemplo é a mina Chapada, da canadense Lundin Mining, em Alto Horizonte. A barragem de rejeitos foi associada à mortandade de peixes no rio Formiga, além de relatos de doenças crônicas nas comunidades próximas. Já em Niquelândia e Barro Alto, a expansão das minas de níquel, agora sob controle da chinesa MMG Limited, ameaça desmatar ainda mais o Cerrado e contaminar os recursos hídricos.

Goiás tem ainda 18 barragens de mineração classificadas como de alto risco, um número preocupante diante da fragilidade crescente do meio ambiente local. Além disso, o desmatamento do Cerrado já comprometeu mais de 60% da vegetação nativa no estado, reduzindo a capacidade natural de recarga dos rios e agravando a crise hídrica. O bioma, conhecido como “berço das águas” do Brasil, alimenta seis das oito principais bacias hidrográficas do país e é fundamental para o abastecimento de água potável, agricultura e geração de energia.

Investimento

Com mais de US$ 64 bilhões previstos em investimentos até 2028, o Brasil tem se consolidado como um dos principais fornecedores globais de minerais para a transição energética. Mas o estudo reforça que essa transição só será justa se vier acompanhada de fiscalização rigorosa, políticas públicas firmes e respeito aos direitos das populações afetadas.

“Não é razoável que o Estado se comporte como sócio das mineradoras e abra mão do seu papel de fiscalizador”, afirmou Maurício Angelo. Para ele, é essencial que o debate sobre a transição energética inclua justiça socioambiental e coloque os territórios e as populações mais afetadas no centro das decisões.