Os níveis de gás carbônico (CO₂) na atmosfera atingiram novos recordes ao longo de 2024, de acordo com dados da OMM (Organização Meteorológica Mundial) divulgados nesta quarta-feira (15). A agência da ONU alertou que a concentração de CO₂ deve impulsionar temperaturas mais elevadas e intensificar os fenômenos climáticos extremos por muitos séculos.
A preocupação central da OMM, conforme seu Relatório do Boletim de Gases de Efeito Estufa, é que os sumidouros de carbono naturais — como a Amazônia, as florestas, os oceanos e os solos — estejam se tornando menos eficazes. Se isso se confirmar, a quantidade de gás que permanece na atmosfera aumentará, acelerando o aquecimento global.
A coordenadora do relatório e diretora científica sênior da OMM, Oksana Tarasova, classificou o monitoramento global como vital para entender as consequências desse enfraquecimento dos sumidouros.
O preço do calor na saúde
O cenário de aquecimento traz consequências diretas para a saúde, especialmente na América Latina. Atualmente, o calor é responsável por cerca de 1 em cada 100 mortes na região.
Segundo uma análise de cenários feita em 326 cidades por uma rede de pesquisadores, esse número pode mais que dobrar em 20 anos. Projetando um aumento entre 1ºC e 3ºC no aquecimento global para o período de 2045 a 2054, o índice de mortalidade por calor – hoje em 0,87% – pode atingir 2,06% no pior cenário.
Nelson Gouveia, professor do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e um dos autores do estudo, destaca a vulnerabilidade dos grupos: “As pessoas idosas e as mais pobres são as que mais sofrem. Quem vive em áreas periféricas, em moradias precárias e sem acesso a ar-condicionado ou a espaços verdes terá mais dificuldade para enfrentar ondas de calor”.
Acordo de Paris e medidas de adaptação
Apesar do quadro, há avanços. O Acordo de Paris, que completa dez anos em dezembro, já demonstrou resultados efetivos ao conter a projeção de aquecimento de 4°C (pré-2015) para 2,6°C.
Mas, segundo um estudo organizado pelo Climate Center e pelo WWA (World Weather Attribution) e publicado nesta quinta-feira (16), se o tratado fosse cumprido integralmente, os resultados seriam ainda melhores: o planeta evitaria 57 dias de calor intenso por ano. No entanto, os governos ainda precisam buscar o objetivo inicial de limitar o aquecimento “bem abaixo de 2ºC”.