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Desmatamento coloca em risco esforço do produtor rural

Desmatamento coloca em risco esforço do produtor rural

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O esforço do produtor rural em investir em tecnologia no campo para aumentar a produção de alimentos está ameaçado pelo avanço do desmatamento e da degradação florestal. O alerta foi feito pelo pesquisador da Embrapa, Eduardo Assad, durante o painel online sobre mudanças climáticas realizado pela empresa de meteorologia Climatempo

Assad explica que há uma relação direta entre a emissão de gás carbônico (CO2) e o aquecimento global e, de acordo com o engenheiro agrícola, a agropecuária brasileira vem demonstrando bons resultados em evitar a emissão de gases que causam o efeito estufa, enquanto o combate ao desmatamento e degradação florestal está na contramão. 

“Entre 2010 e 2016, a agropecuária cresceu apenas 6% a emissão de CO2, sendo que a produção dobrou. Por outro lado, o Brasil aumentou em 57,4% as emissões por desmatamento e degradação no mesmo período”, explicou.  Os dados apresentados pelo pesquisador são do inventário oficial das emissões de gases de efeito estufa feito pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. 

 “Concordo com a ministra Tereza Cristina de que o Agro é o setor econômico mais vulnerável à mudança climática”, pontua Assad. De acordo com pesquisador, o relatório do Painel Intergovernamental para a Mudança de Clima (IPCC) divulgado no início de agosto mostra que os veranicos estão cada vez mais intensos e as projeções apontam mais reduções nos índices de chuva pelos próximos dez anos.

 O clima cada vez mais quente e seco se mostra como uma ameaça para os produtores rurais que adotam a agricultura de sequeiro. Atualmente, 95% das áreas cultivadas dependem exclusivamente das chuvas para garantir o desenvolvimento e frutificação das plantas. 

Durante a apresentação, Assad, que também leciona na Fundação Getúlio Vargas (FGV), trouxe como exemplos dos impactos negativos das mudanças climáticas na agropecuária a recorrente quebra da safra do milho no Paraná e em Mato Grosso, queima de flores de café em Minas Gerais, perda da safra de laranja em São Paulo e a morte de gado no Paraguai. 

“Eu já havia visto morte de pintinhos de um dia por ondas de calor, mas gado é a primeira vez que vejo, e me assustou. Mas olhem bem para esse pasto, não tem nenhuma árvore. Discutir ambiência animal é cada vez mais importante”. O pesquisador alertou que a cada meio grau a mais na temperatura da Terra, as ondas de calor se tornam mais frequentes. 

Segundo o IPCC, até 1900 era registrada uma onda de calor a cada 50 anos e com a mudança climática podem ocorrer quase 40 eventos extremos a cada cinco décadas. No Brasil, os dados de 291 estações meteorológicas registraram aumento do número de dias com temperaturas acima de 34 graus. Um estudo da Embrapa, em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia, prevê a possibilidade de 200 dias por ano com temperaturas muito altas no período de 2041 a 2070.

Terra em estado febril

O professor compara o aquecimento global da Terra ao aumento de temperatura do corpo humano: “Temos uma temperatura média em nosso corpo. Se aumenta dois graus, já sentimos desconforto e mal-estar. É a mesma lógica para o Planeta, sendo que o IPCC projeta um aumento de até 4 graus se seguirmos nesse ritmo”. 

Para diminuir dúvidas sobre os termos, o pesquisador explicou que tempo é o que ocorre em um prazo de horas e dias, como uma tempestade, por exemplo. Já a variabilidade climática se refere a fenômenos conhecidos que ocorrem sazonalmente, como a La Niña. Já a mudança climática são as alterações que ocorrem a longo prazo: “O problema é que mudanças que deveriam ocorrer em 140 mil anos, estão ocorrendo em apenas 100 anos”. 

Recuperar o solo e plantar árvores

Eduardo Assad, que atua como pesquisador da Embrapa desde 1987, reforça que é preciso frear o desmatamento no Brasil. Para seguir com o aumento da produção de alimentos sem derrubar mais florestas, ele aponta o caminho: converter os 60 milhões de hectares de pastagens degradadas em sistemas integrados. 

“A recuperação de pastagens e o plantio direto sequestram carbono, e a adoção de sistemas que incluem árvores têm impactos positivos imensos”, explica o professor, pontuando que os benefícios dos sistemas integrados vão desde o aumento da lotação de animais por hectare, até a diminuição de temperatura e aumento da umidade do ar. A tecnologia brasileira que integra lavouras, pecuária e florestas também reduz a intensidade de veranicos, ventos fortes e ondas de calor.