A pecuária brasileira ganha um instrumento inédito a menos de 20 dias da COP30, em Belém: o Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) lançou o Beef on Track (BoT), o primeiro sistema de certificação do mundo para carne livre de desmatamento. O programa visa oferecer ao mercado transparência sobre a produção responsável.
“Hoje, parte da produção pecuária nacional já está isenta de desmatamento e atende a requisitos de conformidade legal e social, mas não há um instrumento que dê visibilidade a isso”, afirma Marina Piatto, diretora executiva do Imaflora.
O selo permitirá o rápido reconhecimento da carne livre de desmatamento por varejistas, importadores e consumidores finais. Por isso, alinha-se à NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) brasileira e será um facilitador crucial para frigoríficos que exportam para mercados exigentes, como a União Europeia (com a Lei Antidesmatamento, que entra em vigor em 2026), o Reino Unido e a China, o principal destino da carne brasileira.
A iniciativa já conta com a adesão da Tianjin Meat Association, da China, que se comprometeu a comprar pelo menos 50 mil toneladas de carne certificada com o selo BoT até junho de 2026.
Quatro níveis e foco em desmatamento zero
O BoT possui quatro níveis de certificação (Bronze, Prata, Ouro e Platinum) e analisa toda a cadeia da pecuária de corte, garantindo a inexistência de desmatamento ilegal, trabalho análogo à escravidão e produção em terras sob embargo, terras indígenas, UC’s ou territórios quilombolas. Para os níveis mais altos, será exigido o desmatamento zero.
O selo será aplicado diretamente nos cortes de carne, com uma barra verde intuitiva que indica o nível de monitoramento florestal. A ambição é que os frigoríficos evoluam da categoria Bronze para Platinum:
- BoT Bronze: Fornecedores diretos livres de desmatamento ilegal, trabalho escravo e produção em terras públicas destinadas.
- BoT Prata: Fornecedores diretos livres de desmatamento legal ou ilegal, trabalho escravo e produção em terras públicas destinadas.
- BoT Ouro: Fornecedores diretos e indiretos livres de desmatamento ilegal, trabalho escravo e produção em terras públicas destinadas.
- BoT Platinum: Fornecedores diretos e indiretos livres de desmatamento legal ou ilegal, trabalho escravo e produção em terras públicas destinadas.
MRV e os próximos passos
O BoT utiliza um sistema de monitoramento, relato e verificação (MRV) baseado em protocolos já consolidados no setor, como o Boi na Linha (do MPF) e o Protocolo do Cerrado. Essa compatibilização reduz o custo da certificação e permite que um frigorífico com 95% de conformidade com o Boi na Linha ou o Protocolo do Cerrado seja elegível automaticamente ao BoT.
A implementação começa em 2026, com foco no engajamento da Tianjin Meat Association. As auditorias serão anuais, exigindo compromisso de progressão de nível. A certificação destina-se à cadeia de compra (frigoríficos, curtumes, varejo e importadores), mas também pode ser usada por instituições financeiras para conferir segurança a operações de crédito ou títulos.
Cada planta de abate será auditada individualmente e o selo será aplicado nas peças, usando um sistema de balanço de massas. O Imaflora planeja desenvolver protocolos equivalentes para outros biomas brasileiros – Mata Atlântica, Pampas e Caatinga – no próximo ano.
Piatto finaliza dizendo que o BoT chega para “dar visibilidade às boas práticas da pecuária e criar oportunidade para o engajamento de novas empresas”, sendo “inclusivo na implementação e ambicioso nos objetivos” de desmatamento zero.

