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Macaúba atrai investimentos: boa para a natureza e para o agro

Macaúba atrai investimentos: boa para a natureza e para o agroPotencial da regeneração de pastos ao combustível. Foto: José R. da Fonseca/ Wikimedia

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A macaúba (Acrocomia aculeata), também chamada popularmente de coco-baboso, coco-de-espinho ou macajuba, é uma palmeira nativa brasileira que alcança 25 metros de altura. Seus frutos  produzem dois tipos de óleo com diversas aplicações e são considerados uma grande esperança para a descarbonização de setores como a aviação e agricultura. Essa é a aposta de pesquisadores, empresas e organizações ambientais. As informações são do site Um Só Planeta.

Esta palmeira tem vantagens sobre as duas principais espécies usadas para produzir biocombustível e óleo vegetal na atualidade: respectivamente, soja e dendê. No primeiro caso, sua produtividade da macaúba é muito maior, de acordo com especialistas.

“Mesmo sem melhoramento genético, consegue-se produzir cerca de 4 mil quilos de óleo por hectare”, diz a pesquisadora da Embrapa Agroenergia, Simone Fávaro. A soja, por sua vez, produz cerca de 500 quilos de óleo por hectare.

Em em comparação com a palma, ou dendê, a produtividade da macaúba é semelhante. Mas pesa a favor da segunda o fato de ser uma espécie brasileira e acostumada aos diversos solos e regimes climáticos presentes no Brasil, podendo ser plantada inclusive sobre pastagens degradadas, ajudando a recuperar o solo. A palma, por outro lado, tem origem africana e só se desenvolve em ambientes muito quentes e úmidos.

Potencial atrai investimentos

A Acelen Renováveis, empresa de energia do Mubadala Capital, fundo ligado ao governo dos Emirados Árabes Unidos, anunciou um investimento de R$ 10 bilhões no Brasil para produzir combustível sustentável para aviação (SAF) a partir da macaúba. Startups como S.Oleum e Inocas também têm projetos para planta  macaúba no país, ajudando ainda  a recuperar terras degradadas no Cerrado.

Quem investe na macaúba defende que ela pode ser muito mais eficiente do que o dendê na recuperação de pastagens degradadas.

“A diferença (entre dendê e macaúba) é a exigência hídrica. Você consegue produzir a macaúba em lugar onde não dá o dendê. E o grande problema deste último é que, em razão da necessidade mundial de óleo, cresceu muito a produção e de forma impensada. E nós ficamos reféns disso, porque não há substituto para o óleo de dendê – a não ser a macaúba, agora”, explica  Sérgio Motoike, engenheiro agrônomo, pioneiro nas pesquisas sobre uso da macaúba no Brasil e coordenador da Rede Macaúba de Pesquisas (Remape) na Universidade Federal de Viçosa.

O imenso pontencial ambiental é também econômico. Foi o que percebeu a S.Oleum, startup que tem a intenção plantar 180 mil hectares de macaúba no Cerrado até 2029. A ideia é instalar unidades de processamento junto aos polos produtivos, para dar ao recurso os múltiplos destinos que ele possibilita: produtos alimentares, cosméticos e – o que deve constituir a maior parte da demanda pela macaúba no futuro – biocombustíveis.

“Esses coprodutos da macaúba, que ninguém dava atenção, para mim foram o diferencial na decisão de investir. Pois, além dos dois óleos, você produz biomassas com características diferentes, proteínas, amido, celulose, etc. Enquanto a soja e a palma geram apenas óleo e farelo, com a macaúba podemos fazer muito mais produtos”, conta Felipe Morbi, cofundador e vice-presidente da empresa.

Acelen Renováveis, financiada pelos Emirados Árabes, anunciou por meio do programa Seed to Fuel um investimento de R$ 12 bilhões para produzir a partir desta palmeira nativa brasileira o que pode ser uma das soluções ambientais mais aguardadas na atualidade: um combustível sustentável para aviação (SAF) barato e eficaz. A meta da empresa é de produzir 1 bilhão de litros de SAF, estimando que isso ajude a reduzir em até 80% as emissões de CO2 com a substituição do combustível fóssil nas aeronaves.

É importante ressaltar que todos esses projetos são a longo prazo. Afinal, é importante lembrar outra característica importante da macaúba: ela leva 5 anos após o plantio para dar frutos. Os ambientalistas e pesquisadores alertam, porém, que não adiantaria promover a macaúba como substituta de outras culturas, caso ela repita problemas ambientais que as antecessoras tiveram.

Um dos desafios é resistir à tentação de, enxergando todo o potencial e a demanda que aguardam o futuro da macaúba, criar outra rede de monocultura, como aconteceu com a soja; ou gerar pressão por mais desmatamento, como o dendê.