Produtores brasileiros que já investem em boas práticas ambientais e rastreabilidade poderão ganhar vantagem competitiva nas exportações para a China. Um protocolo bilateral em construção entre os dois países pretende reconhecer oficialmente certificações e sistemas de rastreamento já utilizados no Brasil, criando novas oportunidades para a soja cultivada de forma sustentável.
Segundo a Folha de São Paulo, a proposta é alinhar metodologias para medir emissões, uso do solo e manejo ambiental, de modo que selos como o Selo ABC+ e o programa Soja Plus sejam aceitos como prova de sustentabilidade pelas autoridades e empresas chinesas. A expectativa é que o acordo facilite as exportações, reduza barreiras não tarifárias e valorize o produto brasileiro no maior mercado consumidor do mundo.
Entre as medidas previstas estão a integração de sistemas digitais de rastreabilidade, uso de QR codes com dados ambientais e compartilhamento de bases de dados. A iniciativa foi tratada durante missão oficial do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) à China, em junho, com participação da Embrapa e da ApexBrasil.
Embora o protocolo também contemple a carne bovina, a soja, principal item da pauta exportadora para o país asiático, ocupa papel estratégico. Além de atender à demanda por ração animal, derivados como óleo e proteína vegetal já começam a ser submetidos à exigência de rastreabilidade ambiental em redes de supermercados chinesas. Assim, a regulação pode antecipar regras que tendem a se tornar obrigatórias nos próximos anos.
Uma visita técnica de autoridades chinesas ao Brasil está prevista ainda para este ano, para conhecer de perto tecnologias e sistemas locais. Caso o acordo seja fechado, o reconhecimento mútuo das certificações poderá fortalecer o comércio sino-brasileiro e ampliar as oportunidades para produtores que já seguem práticas de baixo carbono.
Posicionamento estratégico
O movimento chinês acompanha uma tendência global de maior rigor na verificação da origem e do impacto ambiental dos alimentos. Algumas redes de supermercados no país asiático já exigem QR codes com informações sobre rastreabilidade e pegada de carbono, e o modelo tende a se estender a grãos como a soja e seus derivados. Para exportadores brasileiros, adaptar-se a essas exigências será fundamental para manter e ampliar espaço no mercado.
A expectativa é que a visita técnica de autoridades chinesas ao Brasil, prevista para este ano, consolide o alinhamento entre as regras dos dois países. O fortalecimento dessa relação comercial acontece em um momento de disputa geopolítica, com os Estados Unidos impondo tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. Para o governo, diversificar mercados e garantir reconhecimento internacional às certificações nacionais são passos estratégicos para proteger e expandir as exportações.
LEIA MAIS:
Agro brasileiro vê impacto de US$ 5,8 bilhões com tarifaço dos EUA
Tarifaço pressiona cadeia do algodão, que vê oportunidade na Ásia
China habilita 183 empresas brasileiras a exportar café para o país
China se rende ao café e isso pode ser bom para o Brasil
Cresce 150% exportação de gergelim de MT para a China