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Agro já perdeu US$ 3,8 trilhões com mudanças climáticas

Agro já perdeu US$ 3,8 trilhões com mudanças climáticasPrincipal vítima da crise, setor emite 26% dos gases de efeito estufa. Foto: CNA

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Por André Garcia

Desastres naturais causaram prejuízo de US$ 3,8 trilhões à agricultura nas últimas três décadas – o equivalente a 5% do PIB agrícola mundial por ano. Os números, divulgados nesta semana pela Allianz Research, colocam o agro no centro do debate sobre como vencer a instabilidade climática e continuar alimentando o mundo.

De acordo com o estudo, em trinta anos o impacto médio foi de US$ 123 bilhões anuais, valor próximo a todo o PIB brasileiro de 2022. Nesse cenário, as secas se consolidam como as principais algozes do campo, responsáveis por dois terços dos prejuízos e por fazer do agronegócio uma das maiores vítimas das mudanças climáticas.

Por outro lado, o setor responde por 26% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE), ocupa metade de toda a área habitável do planeta e é responsável por 70% do consumo mundial de água doce. A expansão de lavouras e pastagens em regiões como o Brasil tem ocorrido à custa da destruição de florestas e da biodiversidade, o que amplia a crise.

“A agricultura moderna expressa uma contradição profunda: é indispensável para alimentar uma população mundial em crescimento, mas, ao mesmo tempo, compromete os próprios sistemas ecológicos dos quais depende”, destacam os autores.

Impactos econômicos até 2050

O impacto deverá castigar para além das porteiras. O relatório projeta que, até 2050, a redução da produtividade agrícola deve provocar alta generalizada nos preços dos alimentos. Os rendimentos do milho podem cair 9%, os do trigo 7% e os da soja 4%, elevando a inflação global em 13% acima da linha de base.

Os preços mais altos e a queda de produtividade também pressionam as margens das empresas do setor agroalimentar. Segundo as estimativas, cada aumento de 1 ponto percentual nos preços das commodities pode reduzir em cerca de 1,67 ponto percentual a lucratividade, tanto das empresas a montante quanto a jusante da cadeia.

“Além dos riscos agrícolas, isso representa uma ameaça macroeconômica, já que a inflação alimentar impulsionada pelo clima pode desencadear instabilidade econômica, social e financeira em escala mais ampla”, diz trecho do estudo.

Os quatro pilares da adaptação

Diante disso, o relatório aponta que a agricultura precisa se reinventar para continuar alimentando o mundo sem colapsar os ecossistemas. A transição depende da consolidação de quatro pilares de adaptação, que unem inovação, governança e estabilidade financeira.

O primeiro é o das práticas agrícolas, como a adoção de culturas mais resistentes à seca e ao calor, aliada à diversificação dos plantios e ao manejo eficiente de solo e água. O segundo pilar é a inovação tecnológica, que inclui o papel das sementes adaptadas às novas condições climáticas e dos sistemas digitais de monitoramento de safras.

O terceiro pilar é o apoio governamental, por meio de políticas públicas que envolvam o planejamento do uso da terra, a capacitação técnica rural e os subsídios aos produtores, por exemplo. Por fim, o relatório coloca as redes financeiras e os seguros agrícolas como instrumentos centrais para a resiliência econômica dos produtores.

O exemplo da Moratória da Soja

A Allianz Research cita o Brasil como exemplo de que é possível expandir a produção agrícola sem ampliar o desmatamento direto, ao destacar os resultados da Moratória da Soja na Amazônia. Firmado entre empresas, governo e organizações da sociedade civil, o acordo proibiu a compra de grãos cultivados em áreas desmatadas após 2008.

Entre 2015 e 2020, a produção de soja brasileira aumentou de 100 para quase 120 milhões de toneladas, enquanto o desmatamento ligado à cultura caiu mais da metade — um processo que os autores classificam como “desacoplamento” entre produção e desmatamento.

Os pesquisadores, porém, reconhecem que parte da pressão por novas áreas migrou para outros biomas, sobretudo o Cerrado, onde o desmate acelerou. Para os autores, a adoção de medidas semelhantes poderia evitar a perda de mais de 3,6 milhões de hectares até 2050, desde que acompanhada de controle e rastreabilidade efetivos.

 

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