Por André Garcia
A adoção de práticas sustentáveis na agricultura e na pecuária pode adicionar até R$ 94,8 bilhões por ano ao PIB brasileiro até 2030, segundo estudo do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgado nesta quinta-feira, 30/10.
O levantamento “Potencial Econômico das Práticas Sustentáveis na Agricultura e Pecuária” analisou quatro tecnologias de baixa emissão de carbono: biocombustíveis, bioinsumos, sistema de plantio direto e terminação intensiva de gado.
Sozinhos, os biocombustíveis poderiam acrescentar R$ 71,4 bilhões por ano ao PIB, seguidos pelos bioinsumos (R$ 15,2 bilhões), pelo plantio direto (R$ 4,7 bilhões) e pela intensificação da terminação bovina (R$ 3,5 bilhões).
“O estudo mostra que uma única tecnologia, como os bioinsumos, pode adicionar até 0,13% ao PIB por ano. Em um país que cresce a 2%, isso é mais de 6% do crescimento total vindo só de uma prática de baixo carbono”, explica o pesquisador Cícero Lima, responsável pelo estudo.
Mais empregos e renda no campo
Além dos ganhos de produtividade, o estudo aponta efeitos expressivos sobre o emprego. A adoção em larga escala dessas tecnologias pode criar mais de 700 mil ocupações diretas até 2030, com destaque para os setores ligados à bioenergia e à agricultura de alta eficiência.
“Não se trata apenas de preservar o meio ambiente — é uma agenda de produtividade, renda e geração de oportunidades. Para transformar esse potencial em realidade, o Brasil precisa de políticas públicas consistentes e mecanismos de financiamento que incentivem essa transição no campo”, afirma Eduardo Bastos, CEO do Instituto Equilíbrio.
Produtor já enxerga retorno financeiro
Mesmo diante de juros elevados, práticas como o plantio direto e o uso de bioinsumos vêm ganhando espaço entre os produtores. Para os autores, isso mostra que o retorno econômico já é percebido no campo.
“Os dados comprovam que investir em tecnologias sustentáveis é uma decisão economicamente vantajosa. O desafio agora é escalar essa adoção com políticas públicas estruturadas e instrumentos de financiamento adequados”, afirma Guilherme Bastos, coordenador do Centro de Bioeconomia da FGV.
No balanço final, os pesquisadores reforçam que a sustentabilidade pode — e deve — ser vista como vetor de crescimento e competitividade para o agronegócio brasileiro, desde que haja planejamento e crédito acessível para acelerar essa transição.
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