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Alta de insumos do agro coloca próxima safra ‘em risco’

Alta de insumos do agro coloca próxima safra ‘em risco’

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Por Vinicius Marques, especial para o Gigante 163

O agronegócio brasileiro enfrenta atualmente um aumento nos custos de produção agravados por entraves logísticos gerados pela pandemia do novo coronavírus, em que pesem os altos volumes comercializados pelo setor no mercado externo favorecidos pela alta do dólar.

Em nosso Estado, a perda de receita líquida do produtor rural pode chegar a 30% na próxima safra, conforme cálculo de um agricultor de soja consultado pelo Gigante 163. Para se ter uma ideia do rombo, os adubos e máquinas agrícolas tiveram alta de mais de 100%.

Segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia e Agropecuária (IMEA), houve uma alta em nosso Estado de aproximadamente 22% nos custos totais de produção da soja transgênica da safra 2020/21 para a de 2021/22. Já nos anos anteriores (2019/20 – 2020/21), o aumento foi em cerca de apenas 7,5%.

Conforme os valores oferecidos pelo IMEA, a maior porcentagem dos custos de produção da soja está centrada nos defensivos, fertilizantes e corretivos. 

“Entre os principais insumos que subiram estão os fertilizantes – macronutrientes (26%) e defensivos (13,5%) – puxados principalmente por herbicidas”, diz Cleiton Gauer, superintendente do IMEA.

O produtor e representante técnico de vendas agrícolas e de pastagem da cidade de Alta Floresta (MT), Júnior Berlanda, exemplifica como o caixa de sua propriedade foi afetado pela alta dos insumos. 

Com cerca de 22% da safra de soja plantada, ele conta que a falta de umidade e chuvas regulares têm retardado o andamento de seu plantio, cuja escala está prevista para ser concluída em 30 de outubro. Segundo estimativa do IMEA, 6,16% da área total reservada para a safra de soja aqui em Mato Grosso foi semeada.

O produtor destaca que conseguiu ter uma boa margem de lucro na última safra de soja (2020/21), pois a produção teve início em um momento econômico então favorável, com um custo barato, e sua exportação foi feita já com o câmbio elevado.

“Quem comercializou lá no começo da safra, conseguiu diferenças de custos de mais de 50% entre os mesmos produtos, porque as relações de troca estavam muito favoráveis no final do ano passado”, comenta Gauer, superintendente do IMEA.

Só que atualmente o cenário é distinto, revela.

“Agora a conta começa a mudar porque você tem o custo elevado da soja, que se estabilizou a R$ 150 (por tonelada). Eu acho que nós teremos uma perda de receita líquida do lucro de cerca de 30%”, acrescenta Berlanda em relação à próxima safra.

Outras variáveis

O preço do câmbio – que marcava R$ 5,49 na quinta-feira (07/10) – é um dos fatores que justificam o aumento nos gastos de produção, mas não está isolado. Do começo de 2020 até o pico mais crítico do câmbio (13/05/20), o aumento do dólar foi de 47%, variando em uma média aproximada de R$ 5,50 até o final do ano, segundo dados do IMEA.

No entanto, de acordo com Berlanda, o preço de alguns insumos tiveram um aumento de mais de 100%, como foi o caso do adubo para a soja.

“Uma tonelada de adubo, por exemplo, que a gente pagava R$ 2.700 foi para R$ 5.500”, afirma. “O câmbio não subiu tudo isso. Isso aí é por quê? Por falta de matéria-prima lá na base”, explica Berlanda.

Outra elevação de preços que impactou nos cálculos de Berlanda foi a parte operacional — como o óleo diesel, que teve uma queda no início da pandemia, mas hoje está numa margem acima de R$ 5  — e de investimentos em máquinas e carros.

“Muitas das máquinas estão dobrando de preço”, diz ele. “Em fevereiro, eu comprei quatro colheitadeiras, paguei R$ 1.890.000. Para o próximo ano, eu deixei alinhado (a mesma máquina) por R$ 3.900.000. Dobrou o valor da máquina, que está em falta no mercado”, aponta Berlanda.

Glifosato

Alguns químicos de suma importância para o produtor também estão em falta no mercado, como é o caso do glifosato (herbicida), importado majoritariamente da China. Berlanda afirma ter sentido a necessidade de trocar alguns dos químicos que utiliza para baratear os gastos. Mas, segundo ele, não há muitas alternativas em relação ao uso do glifosato, utilizado na plantação de soja transgênica.

Como resultado, acrescenta o superintendente do IMEA em relação ao contexto relatado pelo produtor rural, com o aumento de informes de atraso e a não entrega de insumos para a produção de soja, crescem os riscos para a safra de milho que está por vir.

“Normalmente os custos não arrefecem tão rapidamente quanto os preços de commodities. Para essa safra, está tudo muito bem desenhado. Para a próxima, é um mercado muito em aberto ainda e um risco considerável para o setor”, avalia Cleiton Gauer.

Somados todos os fatores, Berlanda também prevê um futuro incerto.

“Agora qual é o problema? A gente está sem horizonte”, desabafa. “Porque enquanto eu tenho uma máquina que só dobrou de valor e a soja dobrou, beleza! Mas e se (a máquina) começar a subir ainda mais?”, questiona.