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Custos da soja chegam a R$ 155 bi e ameaçam liderança brasileira

Custos da soja chegam a R$ 155 bi e ameaçam liderança brasileiraEstudo também mostra baixa eficiência de insumos químicos. Foto: CNA

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Por André Garcia 

O aumento dos custos com a produção de soja tem deixado cada dia mais  difícil para o Brasil sustentar o título de maior produtor mundial. Em 2023, o gasto com sementes, fertilizantes e agrotóxicos na produção do grão chegou a R$ 155 bilhões, o equivalente a 44% do valor bruto da produção agrícola da soja no país. Dez anos antes, essa proporção era de 30%.

Os dados fazem parte de levantamento do Instituto Escolhas divulgado nesta terça-feira, 10/6, que mostra que, além da encolha nas margens de lucro, a economia nacional também está pressionada por gastos com importação de insumos, subsídios agrícolas e riscos fiscais.
“Até quando conseguiremos suportar a ineficiência e a insustentabilidade econômica e ambiental do modelo de produção de soja no país? Até quando vamos destinar recursos públicos para um pacote tecnológico ineficiente e frágil? E por último, mas não menos importante, a que custo?” — questionam os pesquisadores.

Crédito: Instituto Escolhas

Lanterna na produtividade

Um dos dados mais preocupantes é a baixa eficiência no uso de insumos químicos em comparação com os demais grandes produtores mundiais. Em 2022, o Brasil precisou de 1 tonelada de fertilizantes à base de fósforo e potássio para colher 239 sacas de soja, enquanto a Argentina colheu 2.116 sacas com a mesma quantidade. Nos Estados Unidos, o rendimento foi de 1.144 sacas; na Índia, 311.

No caso dos agrotóxicos, o desempenho também é o pior entre os cinco maiores produtores. O Brasil produziu apenas 4 sacas por quilo de defensivo, contra 8 da Argentina, 18 dos Estados Unidos e 74 da Índia. Mesmo com os investimentos em tecnologia, a produtividade brasileira cresceu apenas 2% ao ano entre 1993 e 2023, enquanto os custos dispararam.

Esse descompasso coloca em xeque a capacidade do Brasil de manter-se competitivo frente a concorrentes que colhem mais, gastando menos, especialmente em um cenário de exigências ambientais e barreiras técnicas cada vez mais rígidas no mercado internacional.

Transgênicos dominam lavouras, mas não freiam uso de químicos

Outro fator abordado pelo estudo é o uso massivo de sementes transgênicas, adotadas com a promessa de reduzir o uso de agrotóxicos. Hoje, 93% da soja cultivada no Brasil é transgênica, mas essa tecnologia não trouxe os resultados esperados. Ao contrário: nos últimos 20 anos, o uso de agrotóxicos aumentou 660%, enquanto a produção de grãos cresceu 256%.

Segundo o Instituto, isso revela uma dependência crescente de pacotes tecnológicos que não entregam o retorno prometido, com custos elevados para os produtores e para o país. A concentração de mercado de sementes e a padronização genética também são apontadas como entraves à inovação sustentável.

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